O mercado português de smartphones está em quebra – foram vendidos 2,59 milhões de unidades em 2019, menos 5,4% do que no ano anterior –, mas foi a guerra comercial dos EUA contra a China, em particular contra a Huawei, que fez mexer de forma significativa os números do mercado em Portugal.
A Samsung terminou o ano de 2019 na liderança, ao ter vendido 825 mil smartphones – um crescimento anual de 14,8% e que garante uma quota de mercado de 31%, segundo dados da consultora IDC. A tecnológica sul-coreana recuperou o primeiro lugar, depois de o ter perdido para a Huawei em 2018. Desde 2011 que a Samsung era líder ‘intocável’.
A Huawei, fruto do bloqueio dos EUA que impede a empresa, por exemplo, de integrar os principais serviços Google nos smartphones da marca, sentiu na pele o peso da proibição: vendeu 751 mil smartphones no ano passado, o que representa uma quebra anual de 4,9% nas vendas.
Dito assim pode não parecer muito, mas é preciso olhar para as receitas das vendas para perceber o verdadeiro impacto que o bloqueio tecnológico está a ter na Huawei: a empresa faturou 248,8 milhões de dólares em Portugal, cerca de 228,5 milhões de euros ao câmbio atual, o que representa uma quebra de 18,1% em comparação com a faturação das vendas de 2018. Por comparação, a Samsung faturou 337 milhões de dólares, cerca de 309 milhões de euros, e cresceu 11,2%. O impacto foi de tal forma grande que a Huawei passou para a terceira posição ao nível da faturação – foi a Apple a garantir a vice-liderança com uma faturação de 261,8 milhões de dólares, o equivalente a 240 milhões de euros.
“Do ponto de vista de um operador ou de um retalhista, a Huawei se não conseguir reverter esta situação vai deixar de ser um fabricante estratégico nos portfólios. É difícil vender um telefone Android sem os serviços da Google na Europa, neste momento é muito difícil”, diz Francisco Jerónimo, analista principal da consultora IDC, em declarações à Exame Informática.
Mesmo que a Huawei consiga convencer os consumidores a comprarem os smartphones da marca, “convencer os [parceiros de] canais a listarem e a venderem os produtos, e a fazerem um focus na venda desses produtos, isso é que vai ser difícil”, acrescentou o analista. E não faltam marcas prontas a tirar partido do momento menos positivo da fabricante de Shenzhen.
Segundo Francisco Jerónimo, além da Samsung – que cresceu também graças à boa reação do mercado à linha de smartphones Serie A –, a Xiaomi teve um crescimento muito forte: vendeu 119 mil smartphones em 2019, mais 39,6% do que no ano anterior. Este ‘salto’ da startup chinesa deve-se à reconhecida boa relação qualidade-preço dos equipamento da marca e à maior aposta que tem feito no mercado português – e que incluiu a abertura de lojas físicas.
Apesar do resultado positivo, só foi suficiente para garantir o quinto lugar de vendas no mercado português: em terceiro lugar ficou a Apple, ao vender 323 mil smartphones e a crescer 3,2% na análise ano após ano; e em quarto lugar ficou a também chinesa TCL, ao ter vendido 143 mil smartphones, suficiente para crescer 1,9%. Mas no campeonato das receitas a Xiaomi segura o quarto lugar: faturou 28,9 milhões de dólares (26,5 milhões de euros), mais do que os 16,6 milhões de dólares (15,2 milhões de euros) da TCL.
No total, o mercado português movimentou 963,7 milhões de dólares, perto de 885 milhões de euros ao câmbio atual, na compra de smartphones, menos 4,8% do valor faturado por este segmento tecnológico em 2018.
Francisco Jerónimo rejeita no entanto a ideia de que a quebra nas vendas da Huawei tenha sido o elemento principal para o recuo do mercado de smartphones em Portugal, considerando que apenas alterou as quotas de venda anuais dos diferentes fabricantes. E não tem dúvidas em dizer: “Se a Huawei não tivesse tido este problema [bloqueio dos EUA], neste momento era número um… provavelmente a nível mundial.”