Desde o final de 2018 que a BinaryEdge estava a receber propostas de aquisição. A empresa de cibersegurança, fundada em 2015, foi abordada por empresas de appliances, de rating e também de seguros, todas com soluções específicas na área da segurança informática. Mas a proposta que mais interessou à startup só chegaria em janeiro de 2019, quando a seguradora norte-americana Coalition mostrou estar interessada em comprar a BinaryEdge.
Seguiram-se meses de negociações, até que o acordo foi fechado em outubro de 2019. A compra da BinaryEdge pela Coalition manteve-se em segredo mais algumas semanas, até 22 de janeiro de 2020, quando foi anunciada a venda.
A BinaryEdge é uma empresa de segurança informática responsável por um motor de pesquisa de dispositivos ligados à internet e que permite identificar quais estão vulneráveis, uma ferramenta que tem sido importante para descobrir falhas de segurança na área da Internet das Coisas (IoT na sigla em inglês). Sediada em Zurique, Suíça, a empresa foi cofundada pelo português Tiago Henriques e pelo suíço Pekka Jackli. Mais tarde, Till Spillmann e Thomas Dullien também se juntaram como investidores.
Mas a ligação a Portugal vai muito além do cofundador: há mais funcionários portugueses na equipa de cinco elementos da BinaryEdge e o verdadeiro impulso para arrancar com a startup só aconteceu depois de Tiago Henriques ter participado numa edição do SAPO Codebits, aquela que já foi a maior competição de programação em Portugal.
O que despertou numa hackathon culminou num negócio milionário. «Não posso revelar números. A única coisa que posso dizer é que a partir de 2017 sempre tive um número base para qualquer tipo de aquisição da empresa. Esse número começava nos 10 milhões de euros e obviamente para eu ter aceitado vender, tinha de ser acima do número base. Mas em detalhe, não estamos a revelar os pormenores da aquisição», explica Tiago Henriques, ex-diretor executivo da startup e atual diretor-geral para a área de segurança dos clientes da Coalition.
A Coalition era ela própria cliente da BinaryEdge e a proposta da seguradora americana apareceu justamente numa altura em que a startup suíça estava a preparar o lançamento de um serviço de seguros focado em segurança informática – algo que é denominado como ciberseguro.
«A Coalition mostrou-nos o crescimento na parte de negócio, dos ciberseguros, e vimos que era um bom casamento com o nosso crescimento na parte tecnológica. Em vez de irmos buscar uma nova ronda de investimento, recebemos aceitar a proposta de aquisição que eles nos meteram na mesa», explica Tiago Henriques. A Binary Edge só tinha tido uma ronda de investimento, de 500 mil euros por 20% da empresa, na fase de lançamento da empresa.
![Tiago Henriques, cofundador da BinaryEdge e atual diretor-geral para a área de segurança dos clientes da Coalition](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2020/01/tiago-henriques-binaryedge-1-300x263.jpg)
Em conceito, um ciberseguro tem como objetivo funcionar como o último recurso de uma empresa em caso de ataque informático. Imaginando que uma empresa é atacada com um malware que depois exige um resgate (ransomware), o ciberseguro cobre os custos de recuperação, custos legais e outras despesas daí derivadas. Por ser uma malha de conforto numa situação de emergência – tal como o são os seguros das casas ou dos carros –, Tiago Henriques está convencido que é uma área que vai ter grande crescimento nos próximos anos.
“Um ciberseguro não é suposto ser uma peça que substitui nada da segurança, é apenas um complemento a todas as boas práticas que já devem existir dentro da empresa para quando todas elas falharem, a empresa não ter de fechar portas”, sublinha o executivo natural de Lagos.
Por via do acordo de venda com a Coalition, a BinaryEdge está a crescer. Já contratou três novas pessoas e o reforço no número de empregados é para continuar – e é aqui que Portugal volta a ter um papel “crítico”, nas palavras de Tiago Henriques, no desenvolvimento da empresa.
Contratar em Portugal, duplicar em 2021
Enquanto diretor-geral para a área de segurança dos clientes da Coalition, o português de 31 anos tem agora como missão desenvolver a componente de engenharia da seguradora através da recolha de dados de dispositivos que estão ligados à internet. “Continuar a expandir o que a BinaryEdge já estava a fazer, que é agarrar dados da internet que possam ser úteis para os nossos clientes se protegerem e para a Coalition, para efetuar melhores seguros.”
Mas há outra missão que Tiago tem à sua responsabilidade, como revelou à Exame Informática. “Essencialmente a minha missão neste momento é criar uma larga equipa de engenharia em Portugal. Vamos para o mercado, vamos estar a contratar e a formar uma equipa de engenharia 100% portuguesa para expandir esta parte da empresa”, explica.
Parte deste investimento no país vai passar também pela abertura de um escritório, mas que por causa da cultura da empresa acaba por nem ser o elemento crítico. “É mais um está lá para quem quiser”, detalhe o agora executivo da Coalition. A empresa tem uma política de trabalho flexível – é possível trabalhar a partir de casa e escolher o horário de ‘expediente’ –, mas também é importante ter um ponto central no qual os funcionários possam reunir – uma escolha que deverá recair sobre Lisboa.
O recrutamento já está a ser feito, com a BinaryEdge a procurar três elementos de engenharia e a Coalition quatro. Se tudo correr de acordo com o planeado, o objetivo é duplicar a equipa de engenharia em Portugal já em 2021.
Tiago Henriques, enquanto profissional que conhece bem o mercado português, teve um papel fundamental em atrair este investimento. “Mostrei-lhes a qualidade de engenharia [dos portugueses]. (…) E mostrei-lhes que em termos de preço e qualidade dos engenheiros, Portugal neste momento, na minha opinião, é o melhor sítio da Europa. Mostrei-lhes que era uma aposta que valia a pena fazer.”