A Azores Getaways, plataforma focada na venda de pacotes turísticos no arquipélago dos Açores, criou recentemente uma ferramenta, que dá pelo nome de “interline virtual”, capaz de combinar voos de diferentes companhias aéreas (internacionais, nacionais e interilhas), com hotéis e carros de aluguer aos melhores preços de mercado possíveis nas nove ilhas açorianas – a grande inovação prende-se com o planeamento de viagens por pacote da plataforma, bem como com o seu método de pagamento único que evita que o utilizador tenha de fazer vários pagamentos em diferentes plataformas.
Em entrevista à Exame Informática, Luís Nunes, CEO da Azores Getaways, conta que, embora seja natural de Lisboa, viveu desde muito cedo na capital açoriana, de onde não pretende sair tão cedo. O empresário de 34 anos explica que avançou com este projeto em 2011 após ter terminado os estudos na área da Engenharia Informática em Lisboa e neste momento coordena já uma operação de 30 pessoas, que se distribui por três escritórios situados em São Miguel, Terceira e em Boston, nos Estados Unidos da América.
Desde de 2013 que a Azores Getaways começou a promover os pacotes turísticos nas ilhas açorianas nos EUA e de acordo com os dados revelados pela empresa, de 2013 até 2018, o número de turistas desse mercado aumentou de 15 mil para 65 mil.
Em que ano foi criada a plataforma da Azores Getaways?
A empresa foi criada em 2011 e nessa altura comecei logo a fazer a plataforma que só foi apresentada ao público oficialmente em 2012.
Como surgiu a ideia para o projeto?
Aqui nos Açores em 2011 e 2010 havia ainda pouco turismo e a presença na Internet era muito limitada. Mudar isso era evidente, faltava apenas a execução. Felizmente estive no momento certo e tinha as competências necessárias para desenvolver um projeto assim.
Tem pessoas a trabalhar consigo ou está sozinho no projeto?
Neste momento já somos 30 e tornámo-nos rapidamente o maior operador turístico açoriano. Este ano, se tudo correr bem, vamos chegar aos 20 milhões de euros de faturação, colocando-nos no top cinco, ou seis, dos maiores operadores turísticos à escala nacional. Para um destino como os Açores, a Internet faz todo o sentido para chegar perto de muitos potenciais clientes, especialmente, dos Estados Unidos e Canadá, dando-lhes a oportunidade de visitarem um destino desconhecido e altamente apetecível.
Tiveram algum tipo de apoio (público ou privado) para desenvolver o projeto?
Recebi o apoio dos meus dois sócios, Pedro Sousa e João Medeiros, donos de um grupo empresarial chamado 296, que na altura foram determinantes, porque eu era um jovem de 25 anos sem dinheiro e sem contactos. Evidentemente que eu precisava de apoio e eles, ao acharem o projeto interessante, viram potencial em mim e investiram.
Como estão os resultados de faturação da empresa atualmente?
Vamos passar de 11 milhões feitos no ano passado, para 20 milhões de euros. Estamos um pouco distantes ainda, mas no último trimestre temos tido melhorias significativas no número de vendas. Tentamos preservar sempre a rentabilidade e pretendemos continuar a crescer num ritmo acelerado, até porque temos outros projetos, nomeadamente, uma marca chamada Portugal Getaways, que possui o mesmo modelo de negócio que o Azores Getaways e que estende as nossas operações ao resto do país. Lisboa, por exemplo, tem muito mais procura de clientes dos Estados Unidos e do Canadá, que os Açores, portanto, tudo indica que vamos conseguir crescer mais com a Portugal Getaways do que com a Azores Getaways.
O vosso modelo estende-se, por exemplo, à Madeira?
Sim. Nós já vendemos muito na Madeira. Já trabalhamos muito com a Associação de Promoção da Madeira para promover o turismo na ilha, uma vez que ainda é menos conhecida nos Estados Unidos e no Canadá, do que os Açores. Estamos agora a fazer esse trabalho utilizando a Portugal Getaways para promover a Madeira e não só – temos vários pacotes para o Algarve, Porto e Lisboa. Inicialmente promovíamos o turismo na Madeira através da Azores Getaways, mas à medida que os Açores ficaram cada vez mais conhecidos, fomos progressivamente mudando para a Portugal Getaways para evitar confundir o cliente.
Quantos utilizadores tiveram no primeiro semestre deste ano?
Utilizadores visitantes dos dois websites foram à volta dos dois milhões.
Qual é a nacionalidade predominante dos utilizadores?
Em primeiro lugar americanos, em segundo canadianos e, em terceiro, portugueses.
Há muitos emigrantes a utilizar a plataforma?
Tipicamente não temos pessoas que pertencem à comunidade de emigrantes a utilizarem a plataforma. Temos alguns, mas na sua grande maioria são clientes americanos e canadianos que estão à procura de um destino de férias diferente. Os açorianos a viver nesses países costumam comprar apenas o voo porque têm forma de ficar em casas de familiares ou em casas próprias.
A nova ferramenta de “interline virtual” tem tido sucesso?
Nós fomos obrigados por imposição de não haver um interline a criar um entre a Delta e a Sata Açores e funciona muito bem. Já conseguimos levar centenas de turistas que viajaram com a Delta para São Miguel e Ponta Delgada a outras ilhas, particularmente para a ilha Terceira. Se no próximo ano a Delta continuar a voar para os Açores, provavelmente vamos conseguir dar ainda mais uso ao interline virtual. Oferecemos ao cliente uma espécie de “bilhete único” em que tem de fazer apenas um pagamento para ficar com acesso a bilhetes de vários voos, vouchers de hotéis e de automóveis – do ponto de vista do negócio esta ferramenta tem trazido algumas mais-valias interessantes.
No que é que a Azores Getaways difere das outras plataformas turísticas?
Diferimos em várias coisas. Nós temos de fazer a cache dos preços de avião e de hotéis para podermos apresentar calendários para os próximos 12 meses, onde as pessoas rapidamente conseguem identificar os preços mais baixos. Mas fizemos algo que raramente se vê a concorrência fazer, os pacotes multi-destino, nos quais tentamos também combinar os melhores preços de viagens. Em pacotes mais complexos, por exemplo, pessoas que querem viajar para várias ilhas, nós planeamos tudo sem que o utilizador o tenha de fazer manualmente. Estão incluídos voos internacionais, nacionais e inter-ilhas – a mesma metodologia aplica-se à Portugal Getaways. O pacote mais vendido é multi-destino e inclui um voo para Lisboa e acesso a um carro para passearem no Alentejo e Algarve – a tecnologia base é sempre a mesma.
Que influência está a ter a plataforma na região dos Açores?
O número de turistas nos Açores duplicou nos últimos cinco anos e o número de turistas vindos dos Estados Unidos quadriplicou nos últimos seis anos. Os Estados Unidos tornaram-se este ano o mercado internacional com mais peso na região. O nosso papel é muito importante, nomeadamente, no turismo com origem nos Estados Unidos e Canadá, devido à promoção que fazemos do turismo nos Açores através dos meios digitais. Antes o turismo nos Açores dependia maioritariamente da comunidade emigrante.
Pretendem acrescentar novas ferramentas à plataforma brevemente?
Sim. Neste momento estamos a desenvolver algumas ferramentas que vão estar disponíveis nos próximos meses. Essencialmente, vão monitorizar as preferências dos nossos utilizadores. Não será mais necessário perguntar-lhes diretamente as suas preferências para fazermos sugestões, pois, agora teremos por base as suas pesquisas e navegação no nosso site. Vamos enviar ofertas especificamente alinhadas com aquilo que as pessoas procuram e enviar alertas de descida de preço caso o sistema as detete, para que as pessoas comprem um pacote mais barato. Queremos que os nossos clientes tenham acesso às melhores oportunidades sem que tenhamos de ter qualquer tipo de intervenção manual, ou que eles tenham de perder tempo a explicar o que procuram. As ferramentas de reserva estão já bastante maduras, precisamos agora de ferramentas de marketing com uma maior sofisticação.