A Google ainda não tem permissão para voltar a trabalhar com a Huawei. Liang Hua, presidente do conselho de administração da tecnológica chinesa, confirmou que alguns fornecedores já obtiveram a licença dos EUA para retomarem negócio com a Huawei, mas a empresa responsável pelo sistema operativo usado nos telemóveis da marca chinesa não faz parte dessa lista.
O ponto de situação é feito um mês depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter dito que as empresas norte-americanas podiam voltar a fazer negócio com a gigante chinesa. «Em alguns componentes chave ainda não vimos a recuperação [das licenças], como no Android e no seu ecossistema», sublinhou Liang Hua.
Ao longo da conferência, relativa à apresentação de resultados do primeiro semestre, o presidente da Huawei referiu várias vezes que, ao nível dos smartphones, a prioridade continua a ser a utilização do sistema operativo da Google. «A nossa preferência é o Android e esperamos que EUA permitam à Google trabalhar connosco», referiu.
A Huawei continua, no entanto, com o jogo fechado relativamente à alternativa que vai usar caso continue impedida de utilizar o Android. «Como anunciámos, o Mate 20 X [já disponível em alguns mercados] vai usar o sistema operativo Android. Quanto aos outros telefones, depende se os EUA nos permitem usar o Android», disse, quando questionado sobre que sistema operativo iria ter, por exemplo, o Huawei Mate X.
Confrontado pouco depois sobre o software que vai equipar o Huawei Mate 30, cuja apresentação deverá acontecer nas próximas semanas, o presidente da gigante chinesa foi igualmente evasivo. «Verás quão pronto estaremos [para um novo sistema operativo] quando lá chegarmos», respondeu ao jornalista.
Liang Hua voltou a referir que a empresa está preparada para ter um sistema operativo próprio e um ecossistema associado e recusou a ideia de que a Huawei está a fazer “bluff” neste sentido para colocar pressão nos EUA.
«Desde o início, o HongMeng OS tem sido pensado para a Internet das Coisas. Pode ser aplicado em condução autónoma, gestão de casas e controlos industriais. Vamos avaliar como este produto pode ser usado no nosso portfólio. Quanto ao sistema operativo da Huawei, é o plano de longo prazo que temos, não é uma tática que arranjamos. Temos a capacidade para desenvolver o nossos sistema operativo e ecossistema, mas preferimos o Android», reforçou.
Guerra com os EUA com impacto reduzido
Apesar do diferendo comercial entre China e EUA e das interdições aplicadas pela Administração de Donald Trump, o negócio da Huawei vai de vento em popa. Nos primeiros seis meses do ano, as receitas da empresa cresceram 23% para 401 mil milhões de yuan, o equivalente a 52 mil milhões de euros. O negócio de consumo representa a maior fatia – 28,6 mil milhões de euros –, seguido do negócio com os operadores – 19 mil milhões – e da vertente empresarial, que representa 4,1 mil milhões de euros.
«O impacto [do bloqueio dos EUA] é controlável. Os nossos principais produtos não foram afetados e os consumidores ainda acreditam na Huawei. Os consumidores continuam a comprar produtos da Huawei, o que significa que confiam em nós», sublinhou o presidente da empresa.
No que ao negócio de smartphones diz respeito, a Huawei vendeu 180 milhões de unidades nos primeiros seis meses do ano. O que corresponde a um crescimento de 24% em comparação com igual período de 2018. Parte deste desempenho está relacionado com o crescimento das vendas na China.
Liang Hua adiantou ainda que, desde o dia 16 de maio, data do bloqueio imposto pelos EUA, que a Huawei já assegurou 15 novos contratos como fornecedor de redes 5G. Atualmente já são 50 os contratos da empresa neste segmento e que correspondem à distribuição de mais de 150 mil antenas.
Mas como os resultados são cumulativos – primeiro e segundo trimestre –, isso ajuda a blindar os desempenhos específicos do segundo trimestre, justamente aquele no qual as decisões dos EUA teriam maiores repercussões. «Por causa do bloqueio, houve um impacto nas vendas em mercados fora da China. Houve quebras em alguns mercados, mas já recuperamos 80% da performance de vendas que tínhamos antes do bloqueio», esclareceu o presidente.
Sobre o desempenho específico do negócio da empresa na Europa, adiantou apenas que «houve impacto, mas não foi grande», não tendo adianto números concretos.
Apesar do clima de confiança que se vive, o chairman da Huawei avisou que os tempos conturbados ainda não terminaram. «Vamos enfrentar dificuldades na segunda metade [do ano] e no próximo ano vamos continuar a enfrentar desafios. Temos de investir em pessoas e tecnologia para substituir equipamentos antigos. Este investimento vai ter efeito na performance do nosso negócio no futuro. (…) Vamos trabalhar para sobreviver e ao mesmo tempo vamos continuar a investir no futuro».