Startup Lisboa, Mercedes, Web Summit, Unicer e Factory. Todas juntas podem não chegar para fazer um Hub, mas pelo menos ajudam a preencher cerca de um terço dos 35 mil metros quadrados disponíveis nas antigas instalações geridas pelos serviços de Manutenção Militar, no Beato em Lisboa, e dar emprego a mais de mil pessoas qualificadas. Pelo menos foi essa a expectativa que a recém-empossada Secretária de Estado da Indústria Ana Teresa Lehman deu a conhecer esta terça-feira, no tiro de partida para a constituição do Hub Criativo do Beato. O resto virá depois – à boleia da inovação ou de empresas maiores que pretendam tirar partido da bolha empreendedora. Até porque, para já, apenas a Factory e a Unicer têm já edifícios definidos para ocupar dentro do futuro Hub Criativo do Beato, com data agendada para um dia não especificado de 2018.
Miguel Fontes, líder da Startup Lisboa, tratou logo de anunciar guerra ao cinzentismo: «tudo o que não queremos é que isto se confunda com uma zona de escritórios». Depois de contactos com mais de 100 entidades, a Startup Lisboa refere ter recebido cerca de 20 manifestações de interesse em marcar presença no novo Hub, quando ficar parcialmente operacional a partir do próximo ano.
Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, não desperdiçou a oportunidade na fase de précampanha eleitoral para apresentar mais um projeto, mas não desarmou no que toca ao grau de exigência esperado: «Se tivéssemos de escolher um projeto com uma visão de futuro para a cidade, então teríamos de escolher este». E acrescentou pouco depois: «Urge requalificar e regenerar esta zona entre Braço de Prata e Santa Apolónia».
Já fora do palanque, em conversa com os jornalistas, o presidente da Câmara preferiu não avançar com um número no que toca ao investimento do Município neste espaço que pretende funcionar como berço de uma nova indústria. «O investimento será limitado às infraestruturas», explicou.
No roteiro da criação do Hub Criativo do Beato, a Câmara Municipal de Lisboa deverá assumir a responsabilidade de investir no fornecimento de energia, água, saneamento e outras infraestruturas necessárias para o novo parque empresarial se impor. A reformulação dos edifícios ficará a cargo dos privados que queiram marcar presença no novo Hub. Fernando Medina informa ainda que será nas rendas que será feito o acerto entre os diferentes investimentos de privados e da câmara. Quanto ao retorno, a resposta nãop se fez esperar: «o retorno para a cidade é imediato. Este era um espaço fechado, há 10 anos que não é usado», acrescentou o edil.
Os representantes da Factory seguramente que já conhecem em detalhe o modelo que se pretende implementar no futuro Hub Criativo do Beato. Ou não fosse esta empresa que tem no currículo a reconversão de dois espaços industriais em Berlim a escolhida para dar o mote – e funcionar como referência – daquilo que poderá vir a ser o novo espaço de negócios. Jeremy Bamberg, responsável pela Factory em Lisboa, preferiu não ir muito além das palavras de circunstância: «A arquitetura tem de ser um reflexo daquilo que é feito dentro destes edifícios». E a comprovar o que dizia, o representante da empresa que vai liderar a remodelação do Hub Criativo do Beato deu a conhecer um ou outro vislumbre do que poderá vir a ser o edifício mais comprido de todo o antigo complexo da Manutenção Militar do Beato – hoje Hub Criativo do Beato.
Se o evento tivesse sido realizado há seis meses, João Vasconcelos, que pediu recentemente a demissão da secretaria de Estado da Indústria e antes de integrar o governo liderou a Startup Lisboa, teria direito a papel de destaque. Hoje, calhou à sucessora Ana Teresa Lehman, fazer a revisão da matéria dada, e lembrar que, em 2016, Portugal conseguiu a captação de investimento estrangeiro de sempre (112 mil milhões de euros). E uma parte não desprezável desse investimento terá mesmo incidido em novos negócios «Em 2016, as startups portuguesas captaram 21 milhões de euros e já nem estamos a falar sequer das scaleups (investimentos que levam uma startup a ganhar dimensão)», referiu a governante, enaltecendo o papel do ecossistema das startups no que toca «a evitar que a fuga de cérebros para o estrangeiro».
Na Startup Lisboa não há dúvidas de que há procura suficiente para captar mais startups ou transferir novos negócios de maiores dimensões, sem esvaziar as instalações da Rua da Prata, – mas a Secretária de Estado da Indústria lembra que parte do Hub ainda não tem missão ou ocupação atribuídas: «Há aqui muito espaço para iniciativas e projetos».
Em contrapartida, o armazém escolhido para a apresentação desta terça-feira já foi garantido pela Unicer. E neste caso o empreendedorismo não deverá representar um corte revolucionário com o passado: a detentora da Super Bock pretende converter o espaço que alojava geradores elétricos usados pelo Exército para instalar uma microcervejeira artesanal, um espaço de restauração e ainda uma área dedicada à música e à arte urbana.