Alexandre Nilo da Fonseca, diretor executivo do Movimento pela Utilização Digital Ativa (MUDA), juntou os apoios de 12 grandes empresas a operar em Portugal para lançar iniciativas que permitam recuperar o atraso do País no uso da Internet. Na lista de fundadores do Movimento que vai percorrer o país em roadshow figuram organismos públicos como a Agência para a Modernização Administrativa (AMA), e também alguns nomes sonantes como a EDP, Millennium BCP, Microsoft, ou Google. Será que em 2020, metade da população já terá competências digitais avançadas?
Quais os objetivos do MUDA?
Portugal tem uma excelente infraestrutura de telecomunicações, seja em cobertura de fibra ótica, seja em cobertura de rede móvel, mas temos vindo a verificar que o nível de utilização da Internet está muito abaixo da média da Europa – e já nem falo dos países mais sofisticados. Cerca de 26% dos portugueses nunca usaram a Internet, quando na média da UE são 14% e nos países mais avançados esse número anda à volta de dois por cento. Portugal tem de facto muitos infoexcluídos, o que faz com que parte da população não possa beneficiar das vantagens dos serviços digitais disponibilizados pelo Estado Português e pelas empresas, como o homebanking, ou os pagamentos online. O cidadão que não acede à Internet está excluído de uma série de vantagens. Temos uma parte significativa que nunca usou a Internet, e cerca de 40% da população faz uma utilização básica da Internet. Só 28% da população tem competências avançadas. Este movimento nasce com a ambição de, até 2020, fazer uma redução de 26% para 15% do número de pessoas que nunca usaram a Internet, ao mesmo tempo que aumente de 28% para 50% o número de pessoas que fazem um uso avançado da Internet.
Foi difícil juntar estas empresas todas?
Este movimento surge com empresas que têm, à partida, um grande número de consumidores com que se relacionam numa base regular. Estamos a falar de empresas de telecomunicações, banca, seguros, utilities… são empresas que têm já uma parte dos clientes numa relação digital, mas que ainda estão muito aquém do que pretendiam. Hoje, apenas 29% das pessoas fazem uso do homebanking, quando no resto da UE esse número está acima dos 50%. Há a constatação de que ainda têm uma relação relativamente reduzida junto dos seus clientes. Por outro lado, o Estado está numa situação semelhante. Somos dos Países do mundo com melhor oferta em serviços digitais, mas na utilização voltamos a não estar nos lugares cimeiros. Há aqui um problema de literacia digital. Aliámos um conjunto de empresas que garantem à partida de que poderemos chegar a muitas pessoas. Juntámos a Agência para a Modernização Administrativa (AMA) ao movimento, o que garante uma articulação com o Estado. Vamos desenvolver uma iniciativa para levar a chave móvel digital para uso dos clientes dos serviços de várias empresas. Também poderíamos ter uma legislação mais amiga do digital… mesmo quando os processos correm digitalmente, temos sempre de ir a um balcão ou apresentar um documento em suporte físico.
E como é que isso pode ser alterado?
Queremos mudar isto com uma proposta legislativa para vários setores, e para várias temáticas da relação entre cidadão e empresas ou Estado, no sentido de que a legislação possa mudar e acompanhar um pouco a linha europeia. Também assinámos parcerias com universidades, a Católica Business School, a Porto Business School e a Nova Business School para um conjunto de estudos que permitam identificar os fatores que fazem com que haja menos pessoas a usar a Internet. Em breve vamos apresentar resultados desses estudos. Queremos também analisar fatores de aceleração para os utilizadores básicos do suporte digital e também visionar o que poderiam ser os serviços públicos e das empresas nos próximos cinco anos.
A literacia digital tem mesmo impacto na economia?
Achamos que uma sociedade em que as pessoas têm mais competências digitais é mais produtiva, tem uma economia mais dinâmica e também mais inclusiva. Há também uma questão de responsabilidade social neste movimento. Um dos fatores limitadores do crescimento económico está relacionado com a falta de conhecimento e competências digitais dos cidadão. Hoje, 60% das empresas portuguesas não têm presença online. O que quer dizer que uma parte significativa das empresas quase não existe… nos dias de hoje não ter presença online é quase como não existir. Isto deve-se em certa medida aos donos das próprias empresas. Quanto mais cidadãos tiverem conhecimentos digitais – nem que sejam os mais básicos – maior será o impacto na economia e também no ambiente. Uma economia baseada em papel nunca será tão eficiente quanto uma economia baseada no digital.
Presume-se que o próprio Estado poderá beneficiar do fim da economia baseada em papel…
Além da chave móvel digital, temos mais três eixos de parceria com o Estado. Há um eixo que prevê o uso de dados abertos do Estado que poderão também ser usados na atividade empresarial; um outro eixo que tem a ver com a realização de estudos; e por fim há uma proposta para mudança da legislação. Vamos fazer um roadshow nacional para mostrar como se faz; e também vamos desafiar os mais jovens que já sabem como se fazem as coisas para que apadrinhem as pessoas que não têm conhecimentos nas áreas digitais.
Quem vai suportar estes custos?
São os parceiros. Alguns dão apoio financeiro; e outros com meios. Dentro de um ano faremos um balanço e eventualmente já teremos novos parceiros. O movimento é aberto; não outra condição que não seja o contributo para financiar estas iniciativas.