É bem provável que quem chega a Podentinhos tenha como único propósito visitar Joaquim Reis. Ou não fosse o septuagenário o último habitante da aldeia que fica a dois quilómetros de Penela, distrito de Coimbra. Em breve, o número de forasteiros poderá aumentar com a conclusão de um espaço de alojamento turístico, mas antes dessa inauguração haverá outra tão ou mais importante: em outubro, Joaquim Reis vai passar a receber a visita de um drone, que lhe entrega a comida proveniente da Santa Casa da Misericórdia de Penela. O projeto, que prevê a entrega de almoços em todos os dias da semana, resulta de uma parceria entre a startup Connect Robotics, a Câmara Municipal de Penela e a Santa Casa da Misericórdia.
«Não vai substituir o apoio domiciliário e as deslocações dos profissionais da Santa Casa da Misericórdia, mas torna mais fácil a entrega da alimentação. Obviamente, também tem efeitos ao nível dos custos. Sabemos que é uma solução mais rápida que permite poupar o combustível que seria gasto com as entregas de refeições»,,explica Pedro Ferreira, responsável do Gabinete de Apoio à Inovação, Competitividade e Empreendedorismo do Município de Penela.
Fernando Antunes, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Penela, acredita que a entrega de comida possa revelar-se útil noutras aldeias do concelho beirão que têm vindo a perder população. Mas também aponta uma condição para que esta ferramenta possa ter sucesso: «No âmbito da solidariedade social vemos o uso desta tecnologia como uma forma de poupar meios e recursos. É a tecnologia ao serviço das pessoas. Mas se o sistema se revelar caro, não teremos a veleidade em adotá-lo».
Segundo os interlocutores contactados pela Exame Informática, Joaquim Reis terá recebido bem a ideia de se tornar o primeiro português a receber diariamente “refeições voadoras”.
A Connect Robotics também tem razões para sorrir: para a startup que tem vindo a desenvolver o negócio a partir do UPTEC, no Porto, o projeto de Penela é uma oportunidade de ouro para testar no terreno uma plataforma que permite gerir múltiplos voos de drones, que descolam e aterram sem intervenção humana. «É a própria plataforma que define as rotas dos drones de acordo com as restrições e o tráfego aéreo e a localização do destinatário», explica Eduardo Mendes.
O líder da Connect Robotics informa ainda que foram solicitadas as devidas autorizações para fazer a entrega de comida em Penela. A startup portuense solicitou também a autorização de voos com drones para outras regiões. O que deixa em aberto a realização de testes de transporte de mercadorias ou objetos noutros pontos do País.
A ideia de experimentar a entrega de comida em Podentinhos começou a ganhar forma depois de a Connect Robotics ter estabelecido contacto com representantes da Município de Penela durante um evento organizado pela aceleradora SOUL-FI, do projeto europeu FIWARE. Para a câmara municipal, o projeto de entrega de comida enquadra-se na perfeição com os objetivos definidos para o futuro: «Queremos criar um laboratório vivo de tecnologias e inovação», acrescenta Pedro Ferreira.
Fernando Antunes admite que a introdução do novo meio de transporte possa exigir alguma preparação dos técnicos da Santa Casa da Misericórdia de Penela: «Este é um projeto que, além de experimental, está ainda no início. Ainda há muito passos que têm de ser dados».