
Imagine que está a pensar comprar um carro novo, mas quer uma cor diferente ou um tipo específico de estofos. Está disposto a esperar meses até que lhe entreguem a viatura personalizada a seu gosto? Muitíssimo provavelmente, não! Hoje em dia, é não só a capacidade de personalização como a velocidade com que se consegue entregar o produto ao cliente que pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma empresa. E, se, por uns instantes, abandonarmos a nossa perspetiva de consumidor e nos concentrarmos na perspetiva das companhias responsáveis por esses produtos e/ou serviços, apercebemo-nos do quão fulcral é a necessidade de estar constantemente a inovar para satisfazer os clientes.
É aqui que entra o conceito de Indústria 4.0, uma expressão cunhada para designar a quarta revolução industrial e que, sucintamente, designa a criação de fábricas digitais – ou seja, instalações que tiram proveito de tecnologias como, por exemplo, virtualização, cloud, impressão 3D ou realidade virtual para aumentar a produtividade e personalizar a oferta. É a primeira vez que está a ouvir (ou, neste caso, ler) a expressão Indústria 4.0? Bem, não está sozinho, porque esta é uma daquelas revoluções que decorre nos bastidores e que não é imediatamente percetível para o utilizador final.
Mas este não é só um processo que já está em curso, como parece irreversível, sendo que mexe com a vida de milhões de pessoas – e que envolve ainda muitos mais milhões de euros. Uma visita à Hannover Messe dedicada à Indústria 4.0 dá-nos rapidamente essa perceção. São centenas de expositores espalhados por infindáveis pavilhões e esperam-se mais de 200 mil visitantes nos cinco dias da feira. A nível de expositores, podemos encontrar um pouco de tudo: da startup portuguesa Prodsmart à gigante Siemens – que ocupa o maior espaço da feira com 3500 metros quadrados –, passando por fabricantes chineses, russos ou árabes, por exemplo.
Da personalização da prancha de surf à impressão 3D de uma turbina
Mas, afinal, em que é que se reflete na prática este conceito da Indústria 4.0 ou da digitalização das empresas e fábricas? A resposta é tão vaga que pode ser irritante: em quase tudo… Mas vamos a alguns exemplos apresentados pela Siemens na Hannover Messe, que podem captar mais facilmente a atenção do consumidor. Um deles serviu até para a empresa fazer um brilharete com Barack Obama, que visitou a feira na companhia de Angela Merkel, pois ofereceu ao presidente dos Estados Unidos um taco de golfe da Callaway feito com recurso ao software NX da Siemens que permite personalizar este item desportivo baseado nas características físicas únicas de cada um – «Vou ensinar a Angela a jogar», gracejou o político na ocaisão. Aliás, o mesmo software é igualmente utilizado para fabricar pranchas de surf customizadas (o que é um salto de gigante para quem viu na década de 90 como os shapers concebiam pranchas) ou para desenhar e desenvolver todos os novos Mercedes-Benz da Daimler. Resumindo, personalização máxima e o fim da máxima “one size fits all” (expressão que pode ser traduzida, no seu sentido literal, por ‘um tamanho serve para todos’).
A impressão 3D é outra das tecnologias de destaque. O stand da Siemens tinha em exposição uma turbina que levou cerca de 12 dias a imprimir. Parece muito tempo? Sim, mas há que ter em conta que a impressão 3D para indústria (ou processo de manufatura aditiva) é bem diferente daquela que já podemos fazer nas nossas casas. No caso específico desta turbina, cada milímetro seu levou 50 camadas, pelo que o processo é moroso. Mas, mesmo assim, mais rápido do que se a peça tivesse de ser feita pelo método tradicional, ou seja, com recurso a mais de uma dezena de componentes individuais que são depois soldados, algo que eleva o prazo de entrega para semanas em vez de dias.
No fundo, o que a Siemens defende para a Indústria 4.0 é uma espécie de ponto de encontro entre o mundo virtual e o real, pois a integração do software e do trabalho em rede permite atingir uma otimização através da simulação, o que, consequentemente, permite poupar tempo e dinheiro – ou seja, visa ser um meio para disponibilizar produtos mais baratos aos consumidores e para fazê-los chegar mais depressa ao mercado.