O ano da Science4You tem uma época baixa e uma época alta. E as rotinas da fábrica que a startup portuguesa acaba de inaugurar no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL) dificilmente escaparão à sazonalidade: de janeiro a agosto, a nova fábrica produz entre 10 a 15 mil brinquedos didáticos; nos últimos quatro meses do ano, com o Natal em pano de fundo, a mesma fábrica chega a uma produção diária de 30 mil brinquedos. Os números confirmam o sucesso desta startup de nova geração, mas ainda estão longe dos milhares de milhões dólares alcançados por Mattel, Hasbro ou outros gigantes dos brinquedos.
Miguel Pina Martins não receia as gigantes estrangeiras. Até porque Portugal tem as suas vantagens: «Temos a expectativa de fazer crescer esta fábrica ou de construir outra fábrica em Portugal. Mas não temos planos para construir nenhuma fábrica fora de Portugal nos próximos dois anos».
Aos 21 anos de idade, Miguel Pina Martins revelou os primeiros sinais de jovem com potencial ao montar a Science4You através de um programa de empreendedorismo do ISCTE. Aos 30, alcança a maturidade e adere ao protocolo ao mostrar ao presidente Cavaco Silva os cantos à nova fábrica de brinquedos: são 8000 m2 que, além da produção propriamente dita, implicam uma reorganização de escritórios, laboratórios e unidades de fabrico que antes estavam dispersas geogrficamente.
Pina Martins não esconde a importância estratégica da fábrica: uma parte considerável dos componentes e brinquedos da Science4You eram encomendados a fabricantes externos. A fábrica pretende reduzir essa dependência de terceiros e assumir o controlo do que é produzido. «No final do ano poderemos vir a lançar uma nova linha de produtos. É algo que temos vindo a pensar», acrescenta o jovem empresário, recusando fornecer mais detalhes.
Há uma grande probabilidade de Cavaco Silva ter gostado do que viu e ouviu na visita inaugural da fábrica de Loures. Até porque o CEO da Science4You está apostado em fazer do Made in Portugal um pilar estratégico. «É muito relevante poder produzir na Europa. Na China, a mão-de-obra já não tem o custo de há 10 anos. As coisas que são produzidas lá estão cada vez mais caras. Além disso, há a questão da distância face à Europa, que não permite que uma fábrica chinesa tenha a rapidez e a flexibilidade de uma fábrica sedeada em Portugal», explica Miguel Pina Martins.
Em setembro, a Science4You conseguiu um aumento de capital de sete milhões de euros junto de investidores. Miguel Pina Martins confirma que uma parte desse investimento já tinha como destino predefinido a construção da nova unidade fabril. A parte que sobrou do investimento será aplicada na expansão ao mercado internacional.
Com uma equipa de mais de 300 pessoas, Miguel Pina Martins sabe que não está em condições de concorrer diretamente com as tais gigantes dos brinquedos que empregam milhares de pessoas e faturam milhares de milhões de dólares. Mas não enjeita todas as possibilidades que só futuro pode confirmar. A época alta ainda não terminou e o “mestre dos brinquedos” antecipa uma faturação de 12 milhões de euros para 2015 – quase o dobro dos 6,5 milhões de euros registados em 2014. Em jeito de fim de conversa, aceita fazer uma previsão com um prazo mais alargado e a confiança de quem já “tem” uma fábrica para trabalhar: «Queremos ir para a Bolsa, mas não se prevê que aconteça nos próximos dois anos. Talvez dentro de três ou quatro anos».