A 4Tune não produz medicamentos. E não tem qualquer patente no que toca a tratamentos oncológicos. E no entanto está ajudar grandes empresas farmacêuticas como a Merck e a Roche a acelerarem o processo de desenvolvimento de medicamentos de tratamento do cancro. «Num projeto em que participámos, conseguimos retirar seis meses ao processo de desenvolvimento de um medicamento. O que terá permitido poupar 600 milhões de euros aos custos de investigação em torno desse novo medicamento», explica João Machado, diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da 4Tune (numa das fotos inseridas nesta página).
Afinal, o que faz a 4Tune? Eis uma resposta possível: a plataforma que a empresa portuguesa desenvolveu para a indústria farmacêutica pertence à família dos softwares ERP, que permitem gerir vários recursos técnicos e humanos de uma empresa, mas funciona como uma ferramenta de gestão de conhecimento que reduz o tempo exigido com ensaios e procedimentos relacionados com a produção de novos medicamentos.
João Machado dá uma ideia de como tudo funciona: «É uma ferramenta que extrai rapidamente os resultados obtidos em ensaios laboratoriais, clínicos ou pequenas unidades de produção e que os coloca num histórico. Esses dados podem ser disponibilizados automaticamente sempre que são feitas pesquisas relacionadas com um determinado tema. O que permite que um investigador, que até pode estar do outro lado do mundo, saiba qual a evolução mais recente de um determinado projeto de investigação, sem ter de repetir os mesmos erros ou resultados durante o seu trabalho».
Se fosse apresentado como um ERP É um ovo de Colombo – mas são os ovos de Colombo que costumam ser especialmente valorizados pela Indústria. No caso da 4Tune, a inovação passou pela adaptação de uma plataforma conhecida por iSee aos requisitos da indústria farmacêutica. A plataforma, que fica disponível numa rede interna de uma empresa, recolhe informação a partir de questionários predefinidos, relatórios e textos elaborados pelos investigadores sem qualquer tratamento, e ainda os múltiplos dados apurados por conectores junto dos diferentes instrumentos e aparelhos usados em laboratórios e linhas de produção de medicamentos.
Com toda esta informação, a plataforma fica em condições de apurar “quem fez o quê, com que objetivo e que resultados obteve”, mas mais importante ainda, disponibiliza informação sobre os mais variados avanços no que toca ao desenvolvimento de um fármaco, sem eliminar os passos que foram dados até chegar ao ponto em que se encontra cada projeto. O que pode ser especialmente valioso numa indústria que lida com vários grupos de investigação que, muitas vezes, estão distantes – precisamente porque poupa tempo e dinheiro aos laboratórios.
João Machado recorda que entre o momento em que um laboratório patenteia um medicamento que recorre a uma nova molécula a marca farmacêutica dispõe apenas de 20 anos de exclusividade. Cinco dos 20 anos de exclusividade são preenchidos com processos de ensaio, certificação, e desenvolvimento de métodos e técnicas de produção. O que significa que, em média, a marca apenas dispõe de 15 anos de exploração comercial sem a concorrência de outras empresas que fabricam o mesmo medicamento. «Qualquer redução que consigamos fazer no processo que antecede o lançamento do medicamento vale muito dinheiro», explica João Machado, lembrando que o desenvolvimento de fármacos oncológicos é uma área de elevada complexidade, que se reflete diretamente no valor bolsista quando um produto tem sucesso ou quando sofre um qualquer percalço.
Atualmente, há cerca de 70 medicamentos de nova geração (ADC), que eliminam apenas células cancerígenas e evitam os efeitos nocivos da quimioterapia, que é conhecida por eliminar tanto células doentes como células saudáveis. Destes 70 fármacos ADC, há pelo menos 16 que estão a ser desenvolvidos tendo por base a rede de conhecimento da 4Tune. Hoje, a empresa portuguesa, que conta com um total de 18 profissionais, faz negócios na Bélgica, Alemanha, Suíça, Brasil, EUA, França, entre outros países. «Também fazemos negócio em Portugal, mas 90% da faturação vem do estrangeiro», conclui João Machado.