Há duas semanas, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) desbloqueou os seis milhões de euros necessários para que a comunidade científica e a indústria portuguesas pudessem participar na construção do maior radiotelescópio do mundo. Além da verba, a FCT fez chegar à administração do consórcio que gere o SKA o interesse de ingressar como membro de pleno direito do clube de países que decidem o futuro do maior radiotelescópio do mundo, que prevê a instalação de mais de 2,5 milhões de antenas na África do Sul e na Austrália.
A Exame Informática apurou também que, antes da candidatura a membro de pleno direito, a FCT tem vindo a trabalhar numa candidatura a membro associado, que pode ser encarada como um passo intermédio na participação de Portugal no consórcio do Ska. Caso seja aprovado no “clube”, Portugal garante a participação da indústria e para comunidade científica nacional nos projetos que envolvem o SKA e assegura ainda um lugar na administração (mas sem direito a voto ou a veto).
Uma vez aprovado como membro associado, fica aberto o caminho para iniciar o processo de candidatura a membro de pleno direito do SKA.
A entrada no “clube do SKA” corresponderá à terceira maior participação nacional numa infraestrutura científica nacional (as participações no Acelerador de Partículas do CERN e na Estação Espacial Internacional são as duas maiores).
«A adesão ao SKA é apenas mais um passo. Estas infraestruturas são pensadas para ciclos de uso de 40 anos. O que significa que, no futuro, vamos deparar com mais evoluções e acontecimentos», refere Domingos Barbosa, investigador do Instituto das Telecomunicações de Aveiro e impulsionador da adesão de Portugal ao SKA.
A 25 de fevereiro, a FCT anunciou os investimentos efetuados na diferentes infraestruturas científicas. Entre os projetos selecionados, figura um investimento de seis milhões de euros que garante a participação empresas nacionais, com um papel equivalente ao de fornecedores de soluções na construção do SKA. As marcas e cientistas portugueses integram o Consórcio Engage e deverão assumir funções de liderança em projetos relacionados com os centros de dados, processamento, transporte de informação e energias renováveis.
Com o desbloqueio dos seis milhões de euros, Portugal garante uma participação ativa na construção e, futuramente, no uso da Unidade de Ensaios do SKA que está a ser na Herdade da Contenda, em Moura. Nos próximos dois a três anos, vão ser instalados na Unidade de Ensaios de Moura dois agregados de 9200 antenas.
O projeto contempla ainda a construção de mais oito agregados de antenas (cada agregado é um quadrado com 12 metros de lado), caso «haja disponibilidade financeira do País e tenham sido garantidos os fundos europeus necessário», acrescenta Domingos Barbosa.
O impulsionador da participação de Portugal no SKA faz uma comparação ilustrativa do potencial que a Unidade de Ensaios de Moura pode vir a ter: «Com dois agregados de antenas podemos conseguimos ir até às imediações da nossa galáxia; com 10 agregadores passamos a poder rastrear dezenas de milhares de galáxias, devido ao aumento do número de sensores e à quantidade de informação que passamos a captar».
Além da participação na construção e na gestão da Unidade de Ensaios, o investimento da FCT contempla ainda a participação de 30 cientistas em vários projetos científicos.
A par da Unidade de Ensaios de Moura a participação portuguesa contempla ainda a construção de uma unidade de ensaios com 10 agregadores de antenas (também com 9200 antenas cada) na África do Sul e em Moçambique.
As duas unidades de ensaio têm por objetivo testar antenas, sistemas de computação e redes que vão ser usados no “verdadeiro” SKA, que deverá começar a ficar operacional depois de 2020.
Garantida a participação da indústria nacional enquanto fornecedora, Domingos Barbosa realça a importância de Portugal seguir com o processo de adesão (primeiro como membro associado e depois de pleno direito) ao “clube do SKA”: «É uma fator determinante para reforçar candidaturas de projetos de infraestruturas e de investigação e desenvolvimento aos fundos provenientes do Horizonte 2020 (da Comissão Europeia)».
No vídeo que se encontra integrado nesta página pode conhecer mais alguns detalhes técnicos sobre as antenas que vão ser instaladas na Unidade de Ensaios de Moura.