Hugo Barra: até há poucos dias era uma das pessoas mais importantes na Google, por liderar a divisão responsável pela gestão e desenvolvimento do Android; hoje, o mesmo Hugo Barra anunciou ter passado para a concorrência. Não, não se trata da Apple ou da Microsoft – mas tão só da semi-desconhecida Xiaomi, uma marca de telemóveis chinesa que, até à data tem o raio de ação circunscrito o à China, Taiwan e Hong Kong, mas que está apostada em expandir-se à escala global. E quem é que vai liderar essa estratégia expansionista? Nem mais nem menos que o recém-contratado Hugo Barra.
Com 2,400 empregados no ativo (o que está longe de ser um número típico de grande empresa para os padrões chineses e também mundiais), a Xiaomi tem apostado em apresentar-se no mercado de origem como a «Apple do Oriente». A Reuters dá mesmo conta de que Lei Jun, o líder da marca chinesa, faz questão de vestir este “cartão de visita”, aparecendo em público de camisola preta, calças de ganga e ténis, numa imitação declarada do visual de Steve Jobs.
Excentricidades e marketing à parte, são os números que dão que pensar: em 2012, a Xiaomi vendeu mais de sete milhões de terminais; em 2013 deverá chegar aos 14 milhões de unidades vendidas. O volume de vendas está longe de equiparar-se aos alcançados pela Google ou pela Samsung, mas pode ser indiciador de que a Xiaomi tem margem para crescer.
De acordo com o The Verve, a nova marca chinesa está apostada em ganhar o segmento dos smartphones de topo de gama, nem que para isso tenha de abdicar da totalidade das margens de lucro. E é devido a esta estratégia que o modelo mais recente da marca chinesa (batizado de Hongmi) está à venda na China com preço fixado no correspondente a 98 euros, enquanto o iPhone é vendido a cerca de 581 euros e o Galaxy S4, da Samsung, não vai abaixo dos 355 euros, na melhor das hipóteses.
Os resultados desta política de preços não tardaram a chegar: no segundo trimestre de 2013, a Xiaomi alega ter vendido mais smartphones na China que a Apple. Ao corte do preço venda, a estratégia junta outro fator: a venda de acessórios (baterias, capas, etc.), que atua como elemento diferenciador para o consumidor e um complemento de receitas para a marca.
Os observadores do setor das telecomunicações notam ainda mais algumas características diferenciadoras na Xiaomi: os telemóveis da marca mantêm-se nas lojas durante um período médio de 18 meses (o dobro ou mesmo o triplo da média das marcas concorrentes) e não há um departamento de vendas.
Não são só os talentos emergentes que a Xiaomi vai buscar à Google: o sistema operativo, conhecido como MIUI, é uma versão (bastante) alterada do Android que introduz algumas funcionalidades típicas de um sistema operativo iOS, sem perder de vista serviços que as “grandes marcas” já começaram a trabalhar, como serviços de mensagens e backup de dados pessoais.
Bin Lin, um dos homens fortes da nova marca, declarou em entrevista recente ao All Things D que a Xiaomi pretende vender telemóveis – mas é no software e derivados que o seu negócio deverá ganhar dimensão. Dito por outras palavras: quanto maior for o número de máquinas a correrem MIUI, maior será o volume de vendas de “bens virtuais” para esses dispositivos. «O futuro da Internet móvel passa pela venda de serviços», garante Bin Lin.
Caso a estratégia esteja certa, Lei Jun, presidente da Xiaomi, poderá cumprir o sonho de ter colocado a sua empresa no ranking das 500 maiores da Forbes. Os próximos meses dirão se havia razão para tamanho otimismo.