Alexandre Amâncio tem um currículo que fala por si. Este bracarense, que foi viver com os pais para o Canadá quando tinha apenas três anos de idade, já ocupou os cargos de diretor de arte e diretor criativo para vários jogos da gigante Ubisoft, incluindo títulos aclamados como Far Cry 2, Assassin’s Creed Revelations e Assassin’s Creed Unity, nos quais chegou a liderar equipas com mais de mil pessoas. Agora, o ex-veterano da Ubisoft vai liderar o Elipsis, um novo estúdio de videojogos sediado em Portugal.
Atualmente, Alexandre Amâncio é vice-presidente de estratégia de propriedades intelectuais na FunPlus, uma empresa suíça especializada em videojogos para dispositivos móveis (sendo responsável por títulos populares como State of Survival, Frost & Flame: King of Avalon e Sea of Conquest: Pirate, entre outros). Mas os planos da FunPlus para Portugal são outros.
“O estúdio vai ter, digamos, duas cabeças. De um lado, vamos fazer o desenvolvimento de propriedades intelectuais e colaborar com outros estúdios da FunPlus, para ajudar a desenvolver essas propriedades. Não só construir os universos, mas desenvolver os universos noutros produtos, como bandas desenhadas, filmes ou séries. Temos pessoas cá que são de categoria mundial nesses domínios. E a outra parte vai ser o desenvolvimento das nossas próprias propriedades na criação de jogos”, explicou Alexandre Amâncio, que irá liderar o estúdio, localizado na Fintech House, em Lisboa, em entrevista à Exame Informática.
O estúdio Elipsis arranca com nove pessoas já contratadas, entre alguns portugueses que “já trabalharam em alguns dos maiores jogos dos últimos dez anos, como Star Wars e Avatar“, e também especialistas estrangeiros que se mudaram especificamente para Lisboa por causa deste novo projeto. O plano, nos próximos três anos, é aumentar para 50 o número de pessoas a trabalhar no estúdio Elipsis, revela o responsável.
Um plano que é uma ambição
Alexandre Amâncio foi o primeiro a dar o passo, quando há um ano e meio mudou-se para a capital portuguesa. “Gostamos da energia da cidade e do país”, revela. E, diz-nos, viu por cá um espírito muito semelhante ao que se viveu em Montreal, no Canadá, que em poucos anos se tornaria numa referência internacional dos videojogos, atraindo empresas de grande envergadura e sendo o ponto de nascimento de vários jogos de sucesso global.
“Gostaria de fazer a mesma coisa [em Lisboa]. Trazer pessoas com muita experiência e depois desenvolver o talento local aqui”, conta o executivo da FunPlus. Mas com uma ressalva – acredita que é possível fazer jogos com projeção global, mas sem que os jogos ou o próprio ecossistema cresçam ao ponto de perder identidade ou ficar refém dessa grande escala. “Queremos fazer jogos numa escala mais pequena – a pessoa pode entrar, divertir-se uma ou duas horas e ter satisfação sem ter que jogar centenas de horas. Estamos a ver uma transformação no domínio dos jogos. A indústria está a adaptar-se a tendências novas”, analisa.
O primeiro projeto ‘made in Portugal’ está em andamento. O Elipsis já criou a chamada “bíblia do universo de jogo”, que na prática cria as fundações da história, das personagens, da mitologia e de outros elementos que estarão na base do jogo. “É uma mitologia profunda que estamos a criar, é única”, adianta Alexandre Amâncio. “Os jogos que vamos fazer são jogos para computador, mas que depois vão para as consolas e se calhar para os dispositivos móveis. (…) Posso dizer que vai ser um produto completamente original, vai ser mais do que um produto, não vai demorar muito tempo até começarmos a falar dele. Para o ano que vem já posso dar mais notícias”.
Mas o estúdio não quer estar só focado nos videojogos, quer ter uma presença transversal em diferentes meios de entretenimento. Daí a necessidade de criar um ponto de partida, a tal bíblia, da forma mais completa possível, para que depois seja mais fácil criar novas histórias, explorando diferentes meios de divulgação. “A história que vamos contar em cada um dos meios é feita para esses meios e vamos buscar pessoas desse meio”, garante. Na realidade, o primeiro projeto da Elipsis foi estruturar uma banda desenhada que a FunPlus criou para o jogo de smartphone Sea of Conquest.
Agora, o objetivo da FunPlus e de Alexandre Amâncio é garantir não só que o projeto tenha sucesso – o executivo não quis revelar o valor de investimento feito na Elipsis –, como Portugal possa ser um País com cada vez mais oportunidades para quem quer fazer carreira na indústria dos videojogos.
“Há montes de talento aqui em Portugal, há pessoas que são apaixonadas por jogos e alguns saem do País porque não encontram oportunidades aqui. E há talento para que mais empresas possam vir para cá”.