Mark Zuckerberg adiou o plano de criptografar mensagens de utilizadores do Facebook Messenger e do Instagram ao ser alertado por instituições que lutam pela proteção infantil nas redes sociais de que esta proposta iria proteger os abusadores de serem detetados pelas autoridades. Inicialmente pensada para o próximo ano, esta mudança deverá acontecer apenas em 2023 ainda que a pressão para que não aconteça seja cada vez maior.
A Sociedade Nacional para a Prevenção da Crueldade contra Crianças (NSPCC) do Reino Unido afirmou, em comunicado ao The Guardian, que as mensagens privadas são “a linha da frente do abuso sexual infantil online”, ao garantirem que apenas o remetente e o destinatário conseguem aceder ao seu conteúdo através do processo de criptografia ponta-a-ponta.
A Meta já utiliza este processo no WhatsApp e nas chamadas de voz e de vídeo no Facebook Messenger, dado que “as pessoas esperam que as suas comunicações privadas sejam seguras e sejam vistas apenas pelas pessoas para as quais enviaram, e não hackers, criminosos, governos abusivos ou outros”, disse Zuckerberg em 2019. A empresa pretende implementar a criptografia de ponta-a-ponta em todos os serviços de mensagem online para continuar “a proteger as comunicações privadas das pessoas e mantê-las seguras online”, refere Antigone Davis no Sunday Telegraph. Este acrescentou ainda que a criptografia seria capaz de detetar abusos tal como o WhatsApp já permitiu fazer relatórios de segurança infantil às autoridades.
Priti Patel, secretária do Interior do Reino Unido, tem uma visão oposta e afirmou em comunicado que não se pode “permitir uma situação em que a capacidade da aplicação da lei de combater atos criminosos abomináveis e proteger as vítimas seja severamente prejudicada” e que os planos de criptografia “são completamente inaceitáveis”. O regulador de comunicações Ofcom, responsável pelo cumprimento do projeto de lei de segurança online de 2023, partilha da mesma opinião e defende que as redes socais devem proteger as crianças de conteúdo nocivo e impedir que ocorram abusos nas plataformas, proibindo os adultos de enviar mensagens diretamente a crianças ou enfrentando sanções criminais, sugeriu a CEO Melanie Dawes em comunicado ao Times.
Com mais de 21 milhões de referências de abuso sexual infantil online nestas plataformas em 2020 – mais de 20 milhões no Facebook –, Andy Burrows, chefe da polícia online de segurança infantil do NSPCC, disse também em comunicado que a empresa só deve prosseguir com esta proposta quando possuir tecnologia que garanta que as crianças não correm risco de abuso.