Ele há coisas meio complicadas de dizer, e talvez isso ajude a perceber a advertência que a SoftBank inseriu nos termos e condições de quem comprar um humanoide Pepper no Japão: «O responsável (pelo Pepper) não pode ter qualquer ato sexual (com o robô, entenda-se)».
A restrição sexual já será, por si só, incomum, mas a SoftBank não se fica por aqui: a produtora do Pepper proíbe, através dos termos do contrato, os consumidores de enveredarem por qualquer «comportamento indecente».
Estreado em junho, o Pepper tem vindo a confirmar que ainda é possível surpreender os japoneses com o lançamento de um robô: com 1,2 metros de altura e a inédita capacidade para reconhecer as emoções dos humanos, o pequeno humanoide tem vindo a ganhar espaço entre serviços de atendimento ao público e também em cenários domésticos, onde a capacidade para manter uma conversação pode ser especialmente valorizada. Atualmente, o Pepper está a venda no Japão por 198 mil ienes (cerca de 1.475 euros).
O facto de o autómato conseguir conversar e perceber o que vai na alma dos seus donos terá sido suficiente para a SoftBank tomar medidas profiláticas, que poderão limitar as mentes mais imaginosas. O The Guardian recorda mesmo que a Softbank não vê com “bons olhos” a possibilidade de instalação de software que torna mais sensual a voz do Pepper.
Não se sabe ao certo como é que a Softbank pretende controlar os atos impróprios, mas a companhia reitera, sem dar detalhes, que prevê aplicar punições a quem enveredar por esse tipo de comportamentos.
Além de eventuais situações de “abuso sexual”, os termos e condições da Softbank também proíbem os consumidores de usarem estes autómatos para fazer mal a outras pessoas ou para o envio de spam.
As cláusulas dos contratos do Pepper podem parecer bizarras para a maioria dos consumidores, mas os atos sexuais com robôs estão há muito identificados como uma possível tendência na ficção científica, e também entre as marcas de robótica que já começaram a testar o mercado com robôs desenhados para o efeito.
Na Net, já há campanhas com o objetivo de banir o uso de robôs para fins sexuais; recentemente, Kathleen Richardson, especialista em ética robótica, lançou o alerta: «Os robôs do sexo são uma área em crescimento na indústria da robótica e os modelos que têm vindo a ser desenhados – a aparência, os papéis que deverão desempenhar – são deveras perturbadores»
A avaliar pelos regulamentos de compra do Pepper, Masayoshi Son, líder da SoftBank, está de acordo com os ativistas que se insurgem contra o uso de robôs em atos sexuais. O que não invalida que, logo na estreia do famoso humanoide, o próprio Masayoshi Son tenha contribuído, de forma indireta, para a crescente polémica em torno dos sentimentos e da sensualidade no mundo robótica: «Quando as pessoas são comparadas a robôs na forma como se comportam, isso significa que não têm sentimentos ou emoções – e estamos a desafiar esse conceito agora. É a primeira vez na história da robótica que pomos a emoção dentro de um robô e lhe damos um coração».