Dois pioneiros das redes neurais artificiais e dos algoritmos de aprendizagem automática, mais conhecidos como sistemas de “machine learning”, são os vencedores do Prémio Nobel da Física de 2024. Segundo o comunicado, os dois investigadores tiraram partidos de elementos da Física para desenvolver métodos de Inteligência Artificial que, ainda hoje, servem de base para muitos dos avanços que estão a ser feitos nesta área.
“John Hopfield criou uma memória associativa que pode armazenar e reconstruir imagens e outros tipos de padrões em dados. Geoffrey Hinton inventou um método que consegue encontrar autonomamente propriedades nos dados e, assim, realizar tarefas como identificar elementos específicos em imagens”, lê-se no comunicado sobre o porquê da escolha destes dois investigadores.
John Hopfield desenvolveu uma nova tipologia de rede, apelidada de Rede Hopfield, que utiliza propriedades da Física, através da rotação de atómos, para criar uma descrição da característica de um material. Estas redes foram depois usadas por Geoffrey Hinton como o ponto de partida para criar a chamada “máquina de Boltzmann”, que consegue reconhecer características comuns entre elementos que fazem parte do mesmo conjunto de dados, o que permite classificar imagens ou criar novos exemplos de padrões com base nos dados com que foi treinada – um sistema que está na base dos chamados algoritmos de aprendizagem automática.
As redes neurais artificiais são sistemas que replicam o funcionamento do cérebro humano para criar sistemas inteligentes à base de algoritmos. Estas redes são compostas por diferentes camadas de neurónios artificiais, que analisam e atribuem diferentes ‘pesos’ aos dados analisados (segundo regras definidas pelo programador), passando essa informação à camada seguinte. Estas redes são usadas acima de tudo em tarefas de reconhecimento de imagens, processamento de linguagem natural e também no reconhecimento de voz, tendo a capacidade de reconhecer padrões complexos a partir de um grande conjunto de dados.
Já em 2012, Hinton e dois alunos seus, Ilya Sutskever e Alex Krishevsky, criaram uma rede neural que permitiu um avanço importantíssimo na criação de sistemas de visão computacional, outro momento visto como liminar no avanço da Inteligência Artificial moderna. Em 2018, Geoffrey Hinton venceu mesmo o Prémio Turing, considerado o Nobel da Computação, juntamente com Yoshua Bengio e Yann LeCun.
“O trabalho dos laureados já trouxe enormes benefícios. Em Física, utilizamos redes neurais artificiais numa vasta gama de áreas, como no desenvolvimento de novos materiais com propriedades específicas”, comentou Ellen Moons, presidente do Comité Nobel de Física, no mesmo comunicado.
Recentemente, Geoffrey Hinton, que é conhecido como o ‘padrinho’ da Inteligência Artificial moderna, ganhou ainda mais destaque na comunidade por ter adotado um discurso crítico e mais alarmista sobre o futuro da IA e dos desenvolvimentos que têm sido feitos nesta área. Em 2023, chegou inclusive a despedir-se da Google, onde trabalhava, para poder “falar livremente” sobre os perigos da IA.