Se António Câmara mandasse na ordem natural das coisas, permaneceríamos a vida toda com quinze anos. Aquele momento no tempo em que a criatividade está ao rubro e não estamos contaminados pela carga dos exames e exigências do ensino superior. “É uma fase extraordinariamente criativa, em que os miúdos ainda não tiveram as cadeiras pesadas dos primeiros anos da universidade, que em muitos casos não estimulam e até retiram o desejo de os estudantes serem criativos”, diz o empreendedor – fundou, entre outras, a empresa YDreams – e professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova (FCT NOVA). Aos 69, António Câmara mantém o entusiasmo perante a novidade e a vontade de agitar as águas. Por ora, é no centro de aprendizagem da Câmara Municipal, Seixal Criativo, destinado a alunos do 10º ano, que podemos vê-lo a surpreender-se. “Estão na força da idade, têm ideias, querem trabalhar nelas. É uma fase muito exploratória. Esta idade devia manter-se para sempre…”, diz.
No que antes era um espaço destinado a serviços administrativos, há agora uma sala dedicada à impressão 3D, mesas de trabalho com circuitos elétricos e um quadro digital, onde os monitores, alunos e professores universitários, vão falando de tecnologia. Realidade virtual, realidade aumentada, IA generativa, as áreas que “dominarão o mercado nos próximos cinco anos”, diz o co-cordenador do projeto Edmundo Nobre. Divididos por grupos, os 80 alunos que se inscreveram, dos 1600 das escolas públicas do concelho a quem foi apresentado o Seixal Criativo, vão montando o seu projeto, passando por todas as etapas, da conceção à estratégia de marketing e comercialização. Num método de trabalho que passa muito mais pela prática do que pela teoria.