Com os olhos brilhantes de emoção, Ana Zélia Miller transporta o tubo de plástico transparente entre as duas mãos. Na base do reservatório, cheio até à boca com água, está uma espécie de lama acastanhada, resgatada a 400 metros de profundidade. Saiu das profundezas à boleia do ROV Luso (o veículo operado remotamente, adquirido em 2008 para apoio à candidatura de Portugal à extensão da plataforma continental e que atinge os seis mil metros de profundidade). É a primeira vez que que a investigadora do Laboratório Hércules – Herança Cultural Estudos e Salvaguarda, da Universidade de Évora – e do Instituto de Recursos Naturais e Agrobiologia de Sevilha, Espanha, tem acesso a material desta proveniência.
Até hoje, a especialista em microbiologia tem-se dedicado a procurar organismos vivos em ambientes como grutas – o que a obrigou a fazer um curso de espeleologia – e nas imediações de vulcões em atividade, como aconteceu durante a erupção da ilha de La Palma, nas Canárias. Não hesitou quando, quinze dias antes da partida, lhe chegou o convite para fazer parte da expedição do navio oceanográfico Mário Ruivo, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Requisitou a companhia da sua estudante de doutoramento Vera Palma, acrescentou à bagagem botas de trabalho com biqueira de aço e um laboratório portátil e embarcou. Da equipa fazem parte quase trinta cientistas, de diferentes áreas de trabalho, e mais catorze tripulantes, que passaram duas semanas e meia de volta da Crista Madeira-Tore, uma montanha submarinha de origem vulcânica, com 1100 km de comprimento e uma altura máxima de quatro quilómetros.