Uma equipa internacional de investigadores, liderada por João Faria, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IAstro), detetou um terceiro novo planeta à volta da estrela mais próxima do Sol, a Proxima Centauri, através do espectrógrafo ESPRESSO instalado no Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile.
O “Proxima d”, como foi chamado, demora apenas cinco dias a completar uma órbita e está a uma distância da sua estrela de cerca de um décimo da distância entre o planeta Mercúrio e o Sol. O exoplaneta tem um quarto da massa da Terra e o efeito gravítico na estrela é tão pequeno que provoca um movimento na Proxima Centauri de apenas 40 centímetros por segundo, o que equivale a 1,44 quilómetros por hora. Este é assim, até agora, o exoplaneta menos massivo detetado com o método das velocidades radiais.
A deteção do Proxima d só foi, no entanto, possível graças a um novo método de análise de dados que está a ser desenvolvido por André Silva, estudante de doutoramento do IAstro. Este método permite extrair ainda mais informação dos espetros observados com o ESPRESSO, o que resulta numa maior precisão na medição da velocidade radial.
Como primeiro autor do artigo agora publicado na revista Astonomy & Astrophysics, João Faria afirmou que “esta descoberta mostra que a estrela mais próxima parece albergar vários planetas parecidos com a Terra, que poderão vir a ser estudados em detalhe ou, quem sabe, até visitados no futuro”. Já Alexandre Cabral, investigador responsável pela equipa de Instrumentação e Sistemas para Astronomia do IAstro, destaca que o ESPRESSO é “o espectrógrafo mais avançado no estudo de exoplanetas” e que “este resultado demonstra não só a qualidade da investigação realizada no IAstro, mas também a importância da participação na construção do ESPRESSO”.
À volta desta estrela já eram conhecidos outros dois planetas. O primeiro, chamado de “Proxima b”, tem uma massa semelhante à da Terra e orbita na zona de habitabilidade da estrela. Este foi detetado em 2016 com o espectrógrafo HARPS e confirmado, em 2020, com o ESPRESSO. Já o segundo planeta foi denominado de “Proxima c” e tem uma longa órbita de cinco anos.
Também no verão passado, um exoplaneta com metade da massa de Vénus em órbita da estrela L98-59 tinha sido descoberto por uma equipa liderada por Olivier Demangeon, também ele investigador do IAstro, demonstrando que o ESPRESSO é, de facto, sensível a planetas de massa muito pequena. Pedro Figueira, cientista do instrumento ESPRESSO no ESO, disse em comunicado que estas descobertas mostram “que o método das velocidades radiais tem potencial para revelar uma população de exoplanetas ‘leves’ como o nosso, que se pensa serem os mais abundantes na nossa galáxia e que, potencialmente, podem albergar vida como nós a conhecemos”.
Além dos dados do espectrógrafo ESPRESSO, os próximos tempos serão ricos em dados graças aos lançamentos previstos do telescópio espacial PLATO (ESA) em 2026, a missão ARIEL (ESA) em 2029 e a instalação do espectrógrafo HIRES no maior telescópio da próxima geração, o ELT (ESO), que deverá entrar em funcionamento em 2030.