Há mais de dez anos, aconteceu o desastre de Fukushima, com a instalação nuclear japonesa a acabar por libertar material radioativo no ambiente circundante, depois de se ter registado um tsunami na zona. Mais de 150 mil pessoas tiveram de ser evacuadas e criou-se uma Zona de Exclusão de vários quilómetros quadrados. Entre 2016 e 2018, investigadores de universidades norte-americanas em parceria com a Universidade de Fukushima criaram programas multidisciplinares para analisar o impacto deste incidente na vida animal e monitorizar os impactos da exposição prolongada ao material nuclear.
Kelly Cunningham, autora principal do estudo publicado no Environment International, revela que a maior conclusão é que talvez as pessoas não devam estar tão receosas de mudar de novo para as áreas afetadas, dez anos depois do acidente. O estudo de javalis e cobras naquela região mostra que os animais não apresentam efeitos adversos significativos. A escolha dos javalis é significativa, pois a sua fisiologia é semelhante à do Homem, mais próxima do que, por exemplo, a dos ratos de laboratório, constituindo uma escolha mais apropriada para este tipo de análises.
O estudo foi utilizado também para responder a questões dos habitantes locais que, apontam os investigadores, muitas vezes propagavam rumores infundados sobre os efeitos da radiação na saúde. “Com a esperança de explicar a situação, muitos habitantes locais participaram nas atividades de investigação, incluindo a captura de javalis”, explica o professor Hiroko Ishiniwa ao EurekaAlert.
Outro vetor em análise foi o impacto da exposição à radiação nos níveis de stress. A equipa analisou os telómeros, as ‘pontas’ dos cromossomas, cuja principal função é precisamente proteger o material genético que o cromossoma transporta. Susan Bailey, uma especialista neste tema, explica que “se o javali estivesse stressado, poderíamos ver os telómeros a reduzir (…) Não vimos qualquer alteração relacionada com a dose de radiação, nem nas cobras”.
Os investigadores concluem assim que a exposição prolongada destes animais à radiação proveniente da instalação nuclear teve poucos efeitos adversos e não elevou os níveis de stress.