Professora e investigadora do MIT, Rosalind Picard, 58 anos, sempre foi aluna de nota máxima. Na adolescência lia compulsivamente, dedicava-se a todas as disciplinas com igual interesse e fazia trabalhos de baby-sitter para ganhar algum dinheiro. Achava que na sua vida não lhe faltava nada, muito menos a crença numa entidade superior. Era “cética”, como contou à Exame Informática, e considerava que quem acreditava em Deus eram as pessoas menos inteligentes, menos informadas.
Até que num dos seus trabalhos de baby-sitting contactou com uma família de médicos, católica. Depois de alguma insistência do casal, Rosalind começou a ler a Bíblia – primeiro como cultura geral, depois como forma de se certificar de que o apelo que, entretanto, começara a sentir se mantinha. Decidida a ultrapassar o que pensava ser “apenas uma fase”, a pioneira em Inteligência Artificial informou-se sobre várias religiões, hinduísmo, budismo, judaísmo, visitou sinagogas, mesquitas e locais sagrados. Mas acabava por voltar sempre à Bíblia e a Deus. Já durante a universidade, começou a ir à missa com um amigo e enquanto rezava o seu “mundo mudou”, escreveu a cientista americana no site Christianity Today. “Como se uma existência bi-dimensional, preta e branca, de repente se tivesse tornado colorida e tri-dimensional.”
Esta conversão tardia não a afastou dos caminhos da Ciência. Antes pelo contrário. “Na realidade, senti-me ainda mais motivada a fazer questões ainda mais difíceis sobre a forma como o mundo funciona.” Mesmo na sua investigação, na área da Computação Afetiva, também chamada de IA Emocional, Rosalind consegue incluir esta visão da divindade. “Neste momento, não temos qualquer forma de construir máquinas com sentimentos e emoções e não temos a mínima ideia de como conseguiremos fazê-lo. Mas nós, humanos, somos a prova de que algo assim pode existir. Acredito que conseguiremos entender, mas não nesta vida – noutra que há de vir. E aí seremos capazes de construir máquinas com emoções e consciência destas mesmas emoções”, disse à Exame Informática.
A antecipar questões, Rosalind atira: “Não tem mal nenhum ser cético. Eu também já fui.” Para logo se socorrer de argumentos racionais: “É tão válido e provável [acreditar que existe algo mais] do que acreditar que não existe nada. E a verdade é que há muitas provas de que de facto existe. Dá-nos muita esperança acreditar num mundo assim.”