Nenhum território está a salvo dos efeitos das alterações climáticas. Mas há povos para quem a subida da temperatura média começou a sentir-se mais cedo e de forma mais profunda. É o caso dos inuítes, que habitam as regiões do Ártico, na Gronelândia, Alasca e Canadá. “Sempre nos conseguimos adaptar às mudanças, mas desta vez tudo está a acontecer de uma forma tão rápida que não está a ser possível”, disse a ativista inuíte canadiana Sheila Watt-Cloutier, numa conferência a que o professor e investigador do Técnico, João Canário, assistiu. Esta frase marcou o cientista português de tal forma que quando ficou encarregue de organizar o maior evento científico no estudo do Ártico (o Artic Science Summit Week)– que decorre esta semana, em modo remoto – fez questão de convidar a defensora dos direitos dos inuítes e dirigente da Fundação The Right Livelihood para a conferência inaugural. “As alterações climáticas atingem todo o planeta, mas o problema está a ser sentido duas vezes mais depressa no Ártico do que no resto do mundo”, compara. O que ameaça, de forma severa, o modo de vida, a cultura e a própria sobrevivência deste povo.
Para os restantes habitantes do Planeta Terra, os danos podem tardar um pouco mais a chegarem. Mas chegarão. “O planeta funciona como um todo, o que acontece no Ártico afeta-nos a todos”, sublinha o cientista que faz parte do grupo de cientistas polares. E Portugal, com a sua imensa costa, sentirá estes efeitos de forma muito clara. “O que mais nos afetará é a subida do nível das águas, com a fusão dos gelos em terra, como as calotes glaciares, que escoam para os oceanos [depois de o gelo ter derretido].”
Os cientistas polares portugueses só fazem parte do International Artic Science Committee, organização promotora do congresso anual, desde 2015, mas já levam o mérito de organizar o maior de sempre: mais de 700 comunicações científicas, mais de 1200 inscrições. “Uma loucura!”, admite João Canário. “O sistema aguenta 1800/2000 no máximo.”
A astrobióloga Zita Martins (convidada do Cromo da Semana) será responsável por uma das conferências principais, às quais assistirão cientistas e interessados no tema que vão do Alasca ao Japão, em sessões que decorrem das sete da manhã às nove da noite.