O fenómeno da ‘fadiga do Zoom’ tem vindo a acentuar-se na sociedade atual e um especialista em comunicações da Universidade de Stanford, chamado Jeremy Bailenson, dedicou-se a estudar o que a provoca e quais as melhores práticas para combatê-la, de forma a evitar a exaustão. As soluções de videoconferência já eram populares, com o FaceTime da Apple ou o Skype a serem bastante usadas mesmo antes da pandemia. No entanto, a chegada da Covid-19 aumentou de forma significativa a utilização destas ferramentas e potenciou o surgimento de outras, como o Zoom, o Microsoft Teams ou o Blackboard, por exemplo. Esta foi a forma encontrada pela sociedade para manter aulas e empresas a funcionar, mesmo em cenário de confinamento global.
Agora, cada vez mais pessoas apresentam sintomas de uma exaustão ao fim de um dia completo em frente aos ecrãs, em videoconferência. Por estarmos em casa o tempo todo, esta exaustão até pode parecer contra-intuitiva, uma vez que não tem de haver deslocações para o local de trabalho ou estudo, tempo gasto em transportes públicos, com as pessoas a estarem no ‘conforto’ do lar. Bailenson, que passou mais de 20 anos a estudar como as formas de comunicação virtual afetam os indivíduos, revela que não é surpreendente que isto aconteça. O especialista sugere que a fadiga surge devido à sobrecarga de estímulos não verbais quando se se substituem as comunicações presenciais pelas virtuais. Apesar de as conclusões poderem ser aplicadas a todas as soluções de videoconferência, a expressão ‘zoom’ entrou no léxico popular e é usado como sinónimo para estas chamadas. O Zoom passou de 10 milhões de utilizadores em dezembro de 2019 para mais de 300 milhões cinco meses mais tarde.
O estudo publicado no Technology, Mind and Behavior elenca as quatro razões pelas quais as videochamadas são tão cansativas:
1 – Todos estão a olhar para todos. Há contacto visual permanente, algo que é diferente de quando se mantêm conversas presenciais. Esta proximidade gera ansiedade e stress nos participantes, com qualquer um dos intervenientes a poder ser um orador a qualquer hora. Além disso, as interações acontecem a uma distância muito curta, entre o utilizador e o ecrã, com a proximidade no cenário presencial a ser associada a uma maior familiaridade e intimidade;
2 – A componente de vídeo pode ser distrativa. Um estudo anterior, de 1999, concluiu que há diferenças no processamento cognitivo entre a comunicação só áudio em comparação com a comunicação áudio e vídeo. Os recursos mentais adicionais necessários para interpretar indícios de vídeo exigem mais esforço ao utilizador. “Não basta desligar a câmara para ter uma pausa, mas significa também afastar completamente o corpo do ecrã para que, durante alguns minutos, não nos sintamos assoberbados com gestos que são perceptualmente realistas, mas socialmente insignificantes”.
3 – A pressão de nos estarmos constantemente a ver. O reflexo constante de quando temos o vídeo ligado, num efeito de estarmos sempre a ver-nos ao espelho, influencia também o bem-estar de cada um. Fechar a janela do nosso feed de vídeo e desligar a opção de ter essa configuração por defeito são duas soluções que podem ajudar a minimizar este efeito.
oom4 – Não há uma fuga para a mente. O utilizador pode entrar num estado de ‘fuga hipnótica’, ao distrair-se com outras pequenas tarefas, como roer as unhas, ajustar o cabelo, ir mexendo nas panelas ao lume ou a rabiscar. Com as videoconferências, a atenção tem de estar permanentemente no ecrã e nas imagens, o que implica não permitir à mente divagar. Estudos recentes mostram que, por exemplo, andar numa passadeira enquanto se fala potencia o pensamento criativo divergente mais do que quando estamos apenas sentados.