As plantas são capazes de ajustar o seu crescimento à quantidade de água disponível no ambiente. Se está em quantidades ótimas, a planta cresce vigorosa, se ao contrário disso há escassez, a planta entra numa espécie de estado de hibernação, até que as condições melhorem. Esta capacidade já era conhecida há algum tempo, mas não se sabia bem como é que era feita a gestão dos recursos. Graças ao trabalho da investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), Elena Baena, o mecanismo através do qual a planta deteta os sinais do solo e se adapta em função estes parâmetros tornou-se mais claro, num trabalho publicado hoje na revista Nature Plant.
Há muitos anos que a investigadora, do grupo de sinalização e stresse em plantas, se dedica ao estudo destes fenómenos, analisando a forma como as plantas gerem os recursos – a água, os sais minerais, os nutrientes do solo, a luz – ajustando o seu desenvolvimento ao material disponível. É com base nesta gestão delicada e rigorosa que a planta decide ativar mecanismos de defesa, em que não cresce ou cresce pouco, ou se mantém os parâmetros normais. Só depois de devidamente avaliadas as condições do meio é que lhe crescem raízes, se formam frutos ou se desenvolvem sementes. “A maneira como as plantas crescem e se desenvolvem é muito plástica e duas plantas da mesma espécie que crescem em condições diferentes podem ter características muito diferentes. E isto tem a ver com a gestão dos recursos que a planta faz nessas duas situações”, explica a investigadora que assume o seu fascínio pela forma engenhosa como tudo isto acontece.
O trabalho agora publicado foi todo feito numa planta bem conhecida dos cientistas, a Arabidopsis thaliana , uma espécie modelo, parente das couves. Mas esta estratégia para atingir o equilíbrio é muito comum a outras espécies espécies vegetais, permitindo-lhes sobreviver em ambientes adversos como a seca, um importante fator de stress.
“Estudo este circuito há muito tempo porque estou interessada em evolução. E este é um sistema muito conservado, que se mantém em muitas espécies, nos mamíferos, por exemplo”, conta a investigadora do IGC. “Nos humanos é este mecanismo que permite manter os níveis constantes de açúcar no sangue”, exemplifica. No caso das plantas, este mecanismo permite uma adaptação muito mais plástica, como um aumento no número de ramos ou na quantidade de sementes.
O conhecimento deste processo é essencial num contexto de alterações climáticas. Basta pensarmos na utilidade de aumentar o número de raízes numa situação de seca moderada ou a entrada num estado de latência numa situação de água em excesso. “Se pensarmos nas alterações climáticas, um processo de interesse pode ser a produção de raízes laterais, o que aumenta significativamente a capacidade da planta de absorver nutrientes essenciais como o fósforo e azoto, contribuindo para reduzir a quantidade de fertilizantes que se utilizam na agricultura”, sublinha Elena Baena. Outra possível aplicação seria desenvolver plantas em que este sistema de gestão está um bocadinho mais virado para os mecanismos de defesa do que para o crescimento. Desta maneira a planta iria desenvolver-se mais lentamente, mas, em compensação, seria mais resistente a possíveis períodos de temperaturas extremas, cheias, pragas, etc. “A planta estaria, de certa forma, ‘vacinada’, compara a cientista.
Pode saber um pouco mais no vídeo abaixo.