Esta será possivelmente a primeira vez que tal aconteceu: astrónomos conseguiram ver o brilho provocado pela colisão de dois buracos negros localizados a milhões de anos-luz da Terra.
Os cientistas têm uma teoria que explica a razão pela qual objetos tão densos, aos quais nada escapa da sua atração gravitacional, nem mesmo a luz, acabaram por produzir uma espécie de faísca luminosa ao colidirem um com o outro. Segundo o trabalho publicado no Physical Review Letters, o fenómeno aconteceu porque os buracos estavam no local certo, no momento certo: enquanto rodavam um sobre o outro, estavam dentro de um disco gigante de gases e poeiras em torno de um terceiro buraco negro gigante. No movimento de rotação e eventual fusão acabaram por criar uma onda de choque que colidiu com esses materiais, aqueceu-os e levou a que se iluminassem mais que o normal. Matt Graham, professor de astronomia na Caltech e autor do estudo, explica que se estivéssemos perante apenas a colisão de dois buracos não veríamos nada, mas como estavam rodeados por estes materiais, acabam por produzir alguma luz.
A descoberta foi possível ao analisar as leituras do LIGO-Virgo, um projeto de colaboração que procura ondas gravitacionais causadas por eventos distantes. O LIGO descobriu ondas gravitacionais provenientes da fusão de dois buracos negros pela primeira vez em 2015, uma estreia para todos. O Virgo foi ativado dois anos mais tarde e, desde aí, este projeto tem vindo a detetar vários eventos relacionados com estrelas de neutrões, buracos negros e até colisões entre os dois.
A equipa de Graham, composta por Saavik Ford e Barry McKernan, cruzou as observações do sistema LIGO de seis meses com as análises feitas pela Zwicky Transient Facility da Caltech e que procura o céu noturno em busca de comportamentos estranhos, como brilhos em galáxias distantes. Foi assim que cruzaram os brilhos detetados com os eventos registados pelas antenas LIGO-Virgo e conseguiram prever que o brilho causado pela fusão de dois buracos negros aconteceria cerca de 60 a 100 dias depois da colisão, tempo necessário para os materiais aquecerem e brilharem.
Esta é a teoria que ganha mais força, mas ainda não há confirmação oficial: o evento não foi catalogado como fusão e os dados do LIGO não foram revelados publicamente ainda. O buraco negro gigantesco ainda está ativo e a orbitar outro pelo que é bastante provável que venham a verificar-se novamente as circunstâncias de se encontrarem dentro de um disco de poeiras e gases, dando a oportunidade aos cientistas de efetuarem novas observações.