Um estudo conduzido na Universidade da Pensilvânia mostrou que a edição de genes apresenta uma forma segura de combater o cancro. O objetivo do teste era precisamente determinar se os genes editados eram tolerados pelo organismo humano durante um período prolongado de tempo e qual a sua capacidade de reação. Os investigadores concluem que é possível usar a edição de genes, combinada com tratamentos novos de células do sistema imunitário de forma segura.
A equipa usou uma versão do sistema de edição de genes CRISPR já conhecida há alguns anos para guiar células do sistema imunitário para atacar o cancro nos pacientes. O sistema CRISPR/CAS9 é um dos sistemas mais flexíveis e eficientes para este fim e corta sequências de ADN específicas, explica o ArsTechnica.
Para este teste clínico, os cientistas tentaram dois métodos para aumentar a eficiência da luta das células T contra células cancerígenas. No primeiro, os investigadores inativaram um gene que se descobriu ser responsável por “aligeirar” o sistema imunitário, reduzindo a sua capacidade de resposta. Este método traz um risco de, se for falhada a tentativa de reduzir a capacidade do sistema imunitário, surgirem condições problemáticas, como é o caso das doenças autoimunes. O segundo tipo de testes envolveu influenciar os recetores das células T (TCR) responsáveis pelo reconhecimento de células “estranhas”. As células T reconhecem estas células e tentam combatê-las, como é o caso na rejeição de órgãos transplantados ou quando as células estão infetadas com bactérias ou vírus. Neste segundo método, surgiram TCR híbridos, que se tornaram ineficientes e deixaram de bloquear o reconhecimento. No pior cenário, esta opção faria com que as células T começassem a atacar células saudáveis. Durante o teste, os investigadores geraram com o CRISPR construções que alvejaram os genes TCR das células.
O trabalho envolveu pacientes com cancros reconhecidos pelos genes TCR como malignos e que já tinham sido sujeitos a outras terapêuticas sem sucesso. Os investigadores admitem que a maioria das células T colocadas nos pacientes ainda tinham genes intactos, dado que o método de edição teve um sucesso de 0,5 a 15%.
Os pacientes escolhidos já tinham a doença bastante prolongada, pelo que não era expectável que este teste os curasse. Os cientistas procuraram aferir, isso sim, se o método não trazia complicações adicionais, não causava respostas problemáticas do sistema imune e se as células se mantinham toleradas pelo organismo por períodos prolongados de tempo. Muitas das células transformaram-se em células de memória, o que significa que respondiam mais rápido a novos estímulos.
No que diz respeito a curar efetivamente a doença, este método não se provou bem sucedido, com dois dos casos a estabilizar e um terceiro a mostrar um esforço de resposta parcial. O cancro acabou mesmo por se transformar e escapar ao sistema de reconhecimento das células, numa resposta evolutiva.