A atmosfera de Marte é 160 vezes mais fina que a atmosfera da Terra e é dominada pelo dióxido de carbono. Durante anos, estes dois fatores levaram a crer que a vida teria muito menos probabilidades de ocorrer, uma vez que a água existente no planeta “vizinho” supostamente não teria o oxigénio suficiente para suportar seres vivos capazes de executar uma respiração aeróbica. Só que este cenário poderá ser um pouco diferente da realidade: de acordo com um estudo publicado na Nature Geoscience por investigadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, a água que, eventualmente, existe em Marte poderá ter bastante mais oxigénio do que se previa anteriormente. E, sim, a quantidade de oxigénio aí existente poderá ser suficiente para suportar vida.
Para erguerem esta nova tese científica, os investigadores dos dois laboratórios americanos tiveram de estudar a evolução climática de Marte nos últimos 20 milhões de euros. Este estudo já teve em conta a mudança de eixo de rotação do planeta “vermelho” que terá tido como consequência alterações no clima das várias regiões do planeta.
A este estudo do “histórico” de Marte, juntou-se o desenvolvimento de um modelo químico que permite simular a forma como o oxigénio se dissolve na água salgada – mesmo quando as temperaturas são inferiores a zero graus (o ponto de congelamento da água).
Foi a partir destas duas vertentes de investigação que os investigadores concluíram que nos pontos em que a atmosfera de Marte é mais espessa e as temperaturas são suficientemente baixas é possível a formação de quantidades de oxigénio que são exponencialmente superiores ao necessário para a vida de seres que extraem o oxigénio a partir da água dos oceanos terrestres (exemplo: os peixes) para poderem respirar. O estudo agora revelado estima que terá sido nos últimos cinco milhões de anos que se formaram as maiores concentrações de oxigénio em Marte.
«Ninguém alguma vez imaginou que poderia haver em Marte as concentrações de oxigénio dissolvido que, em teoria, são necessárias para a respiração aeróbica», recorda Woody Fischer, num comunicado do Caltech.
A investigação agora divulgada na Nature Geoscience teve por base informação recolhida por missões da Agência Espacial Europeia. Os dados usados no estudo foram recolhidos nos últimos meses. Foi com base nessa informação que surgiram as primeiras teses que dão como possível a existência de água sob a camada de gelo que reveste um dos polos de Marte.