Corriam as primeiras horas de sábado, quando Vishal Gajjar identificou o primeiro de 15 Impulsos Rápidos de Rádio que tinham sido acabados de captar pelo telescópio de Green Bank, no Estado da Virgínia Ocidental. Os sinais coletados no âmbito do projeto Breakthrough Listen, que sucedeu ao não menos famoso SETI na busca de sinais alienígenas no Espaço, assumem contornos de arqueologia espacial. Muitos deles foram emitidos mais de mil milhões de anos antes da captação, quando a vida na Terra não ia além dos seres unicelulares, e isso já não espanta os astrónomos que sabem que as translações da Terra podem não ser a forma mais fácil de descrever a idade e a extensão do Universo. Surpreendente naquela madrugada de sábado foi o facto de, mais uma vez, ter sido captado o único Impulso Rápido de Rádio que se tem repetido ao longo dos anos. Não com todas as mesmas características das versões anteriores, mas com origem numa galáxia anã, a mais de três mil milhões de anos-luz da Terra. Do impulso que se repete sabe-se apenas o nome de FRB 121102. Tudo o resto é mistério.
«A capacidade extraordinária recetor deste terminal, que está apto a fazer registos numa largura de banda de vários gigahertz em cada momento, e dividir essa largura de banda em milhares de milhões de canais individuais, disponibilizando uma nova visão das frequências espetrais dos Impulsos Rápidos de Rádio», refere Vishal Gajjar, numa citação publicada pelo site Phys.org.
O FRB 121102 foi detetado pela primeira vez em 2012. Essa ocorrência haveria de deixar uma marca indelével. O “nome” FRB deve-se às iniciais de Fast Radio Burst (o que significa que os Impulsos Rápidos de Rádio também ser traduzidos como Explosões Rápidas de Rádio). E o “apelido” 121102 mais não é que a data (12 de novembro de 2012) em que foi registado. A primeira repetição só viria a ser registada em 2015. E passados dois anos, “voltou” a dar sinal na banda dos 7 GHz – e com a curiosidade de recorrer a frequências mais elevadas que aquelas que foram registadas nas primeiras vezes.
Pouco mais se sabe além disso – mas a esperança mantém-se alimentada a Terabytes de informação coletada. Mais precisamente 400 TB recolhidos durante cinco horas de perscrutação do universo entre as frequências de 4 a 8 GHz. Nos próximos tempos, esta será a matéria-prima de investigação de astrónomos e especialistas em rádio: analisar os múltiplos canais e sinais captados – e tentar atribuir-lhes “assinaturas” que poderão ser ou não reveladoras da origem e da causa daqueles impulsos de rádio. E sim, nestas investigações, a eventual descoberta de vida ou atividade alienígena desperta tanto ou mais interesse quanto o estudo do Universo.
Ainda no site Phys.org, Vishal Gajjar dá largas à expectativa: «além de confirmar que a fonte (que emitiu o FRB 121102) está novamente em estado de atividade, a elevada resolução dos dados obtidos pelos instrumentos do (Breakthrough) Listen vai permitir fazer medições das propriedades destas misteriosas explosões com uma precisão superior ao que era possível anteriormente».
Dado estado inicial do estudo, as teorias sobre a origem e as causas do FRB 121102 ainda parecem mais próprias da literatura que da astronomia. A versão mais científica leva a crer que esta emissão de impulsos potencialmente repetível poderá ter origem numa estrela de neutrões em rotação que gera campos magnéticos muito fortes; mas a versão mais fantasiosa remete para hipotéticos lasers de grande potência que poderão estar a ser usados por alienígenas nas diferentes incursões pelo Espaço. Qual destas versões estará certa? Talvez seja mais indicado esperar que FRB 121102 se repita antes de tirar uma conclusão final.