Uma equipa de investigadores liderada por Lino Ferreira e Ricardo Neves, do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC), publicou na revista Nature Communications um artigo científico que descreve os resultados alcançados por uma nova técnica de transporte de nanopartículas de quimioterapia ativadas remotamente com luz azul. O projeto é conhecido por Nanotrigger e contou com o apoio de vários fundos nacionais e comunitários.
A técnica, que foi desenvolvida com a participação de investigadores da China, Espanha e Reino Unido, tem sido testada em ratinhos de laboratório que sofrem de leucemia.
Em comunicado, a Universidade de Coimbra informa que, através do novo método de transporte, as nanopartículas de quimioterapia permanecem inativas enquanto percorrem o interior do corpo humano até alcançarem o denominado “nicho leucémico” que está situado na medula óssea e que é responsável pela produção de todas as Células Estaminais Cancerígenas (CEC) que estão na origem da leucemia.
Uma vez chegadas ao “nicho leucémico”, as nanopartículas da quimioterapia são ativadas com o recurso à projeção de luz azul. Todo este processo revela uma vantagem ao nível da eficácia face aos tratamentos de quimioterapia convencionais, que não dispõem de mecanismos que permitem ativar as nanopartículas apenas nos órgãos ou tecidos doentes. A este fator, junta-se outro: o “nicho leucémico” funciona como um elemento protetor das células cancerígenas. O que aumenta a probabilidade de regresso da doença depois das sessões de tratamento.
Para criarem um “meio de transporte” para as nanopartículas de quimioterapia, os investigadores tiram partido de algumas das características das CEC, para desenvolver uma terapia que só produz resultados quando chega ao local desejado. As CEC estão preparadas para naturalmente encontrarem o “nicho leucémico” quando se encontram dentro do corpo humano, «utilizando o seu sistema de “GPS natural”», explica Ricardo Neves.
Com este novo método de transporte torna-se possível levar a quimioterapia para «junto do reservatório de células responsáveis pelo perpetuar da doença», e ativar o tratamento apenas quando há maior probabilidade de ser eficaz. «Deste modo, torna-se possível espoletar a libertação da quimioterapia, por ação da luz, e ter maior impacto no local e consequentemente na doença, evitando também os efeitos secundários noutros locais», acrescenta Ricardo Neves, no comunicado da Universidade de Coimbra.
Os mentores deste projeto de investigação admitem vir a usar infravermelhos, em vez da projeção de luz azul. «Este tipo de tecnologia pode vir a ser utilizado num contexto terapêutico através da utilização de moléculas sensíveis à luz com infravermelho, cuja radiação é menos energética mas mais segura para utilização no organismo que a luz azul. A descoberta poderá ter aplicações práticas no tratamento do cancro e em outras áreas, sendo que no contexto da leucemia pode ajudar a erradicar as células do nicho da medula óssea doente», explica Lino Ferreira.
Além do tratamento do cancro, a nova técnica de transporte de quimioterapia poderá revelar-se igualmente útil como forma de encaminhar para a medula óssea de um paciente células introduzidas no corpo humano através de transplantes.
O projeto “Nanotrigger” foi financiado pelo FEDER e COMPETE, bem como pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pela Comissão Europeia.