Demora o tempo de ler esta frase: um segundo. Que diferença faz esse segundo a mais para quem o vive? A questão permanece em aberto, mas a decisão já está tomada pelo Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra (SISRRT): No dia 30 de junho, quando chegar o 59º segundo das 23h59 a humanidade terá de viver um segundo extra nesse dia, antes de entrar no dia 1 de julho.
Será que os sistemas Unix e Linux aguentam a inserção desse segundo? E a Internet, continuará a funcionar? As questões não são catastrofistas – apenas recorrem ao passado para lembrar todos os cenários possíveis. E nesse exercício de memória há uma data que rapidamente assoma à mente dos especialistas: em 2012, a decisão de inserir um novo segundo na contagem do tempo mundial, provocou uma míni-catástrofe: os aviões da australiana Qantas registaram atrasos de várias horas porque simplesmente os computadores de check-in, que corriam software da Amadeus IT Group, se recusaram a funcionar.
Páginas como a do Foursquare, Yelp, Reddit e também serviços da Mozilla deixaram de funcionar devido à incapacidade dos sistemas operativos Unix (família a que pertence igualmente o Linux) para encaixar mais um segundo num período que originalmente estava definido que não deveria ter mais de 86.400 segundos por dia.
Daniel Gambis, diretor do Centro de Orientação Terrestre do SISRRT, confirma que a correção prevista para o denominado Coordinated Universal Time (UTC) pode ter efeitos nefastos para os serviços baseados na Internet que operam com servidores Linux e Unix, mas lembra que cabe às marcas que produzem essas soluções e aos departamentos de tecnologias das várias empresas assumirem «a responsabilidade de adequar todos os sistemas informáticos a este segundo a mais; se não, pode haver problemas graves».
Linus Torvalds, o criador do Linux, também já fez saber que pretende acompanhar o dia que terá mais um segundo. A primeira reação é de relativização do problema – e também de contenção. Até porque nem mesmo um guru como Torvalds consegue garantir que a informática mundial passa incólume a um segundo a mais: «Quase todas as vezes que temos um salto de um segundo descobrimos alguma coisa», referiu o criador do Linux citado pela Wired.
Os mais distraídos podem julgar que se trata de um acerto de hora inusitado – mas a análise do passado indica que desde 1972 até à atualidade já foram acrescentados, por 25 vezes, segundos à contagem do relógio que serve de referência mundial.
Curiosa ironia, o 26º acerto até poderá vir a ser o último: a Organização Internacional das Telecomunicações, que regula o UTC, deverá reunir-se em genebra no mês de novembro numa conferência dedicada às comunicações Rádio. Sobre a mesa está a possibilidade de abolir os acertos da hora universal, que pretende ajustar a vida dos humanos aos efeitos que a gravitação da Lua, os terramotos e as marés têm na rotação da Terra.
Caso seja abolido o acerto cíclico, será necessário reprogramar muitos dos computadores e servidores da atualidade para operarem seguindo os relógios atómicos que refletem o tempo como ele é e não necessitam de acertos com as rotinas humanas.
A longo prazo (de dezenas de milhares de anos), a questão poderá produzir efeitos no plano social: entre os entendidos, há quem lembre que o uso do relógio atómico terá como efeito a acumulação de tempo que acabará por empurrar a meia-noite para a madrugada – e milhares de anos depois – levará a primavera a iniciar-se em… novembro.