No solo, num descampado nos arredores de Montemor-o-Novo, nove aficionados da engenharia aeronáutica e dos rádios amadores, juntam-se em torno de um balão de hélio. Às 15h00 de sábado, como combinado, largam o balão rumo à estratosfera.
Passadas duas horas e meia, o balão desenvolvido pelo grupo de alunos e ex-alunos de engenharias Aeroespacial e Mecânica do Técnico chegou aos 36 quilómetros de altitude. Lá nas alturas, com temperaturas que oscilam entre 50 e os 60 graus negativos, o balão estratosférico, com uma carga de cerca de 700 gramas, fez história ao assegurar comunicações de rádio para uma área correspondente a toda a Península Ibérica através de um único dispositivo.
«Quando chegámos aos 36 quilómetros de altitude, conseguimos garantir comunicações de rádio até Saragoça e apenas a região de Barcelona ficou de fora. Se tivéssemos feito o lançamento a partir de Madrid teríamos garantido a comunicação de rádio para toda a Península Ibérica. Como fizemos o lançamento de Montemor-o-Novo não pudemos garantir a cobertura da zona mais a leste da Península. Mas garantimos a cobertura de todo o Portugal Continental e tivemos pessoas a comunicar por rádio a partir de Ceuta e de Tânger», explica Diogo Henriques, um dos membros do Balua Project.
Durante três horas, mais de 100 radioamadores aproveitaram para comunicar naquela que terá sido a primeira vez que um único repetidor garantiu comunicações de rádio para uma área tão vasta na Península Ibérica. «Fazemos isto pelo desafio, não temos qualquer propósito comercial. Mandar um balão para a estratosfera ainda é a melhor forma de testar a nossa tecnologia. Não é o Espaço, mas é um bom teste para tecnologias que queremos usar no Espaço e em condições extremas na Terra», acrescenta Diogo Henriques.
O ensaio, que contou com o apoio das associações de radioamadorismo AMRAD e LARS, apenas permitiu comunicações de voz, por walkies talkies nas frequências 145.950 MHz (uplink em VHF) e 435.950 MHz (downlink). O ensaio confirmou ainda que é possível, com um único repetidor, criar um sistema de comunicações alternativo que poderá ajudar as autoridades e a proteção civil em caso de catástrofe ou apagão na Península Ibérica.
«Desta vez, apenas o sistema apenas permitia comunicações por voz. Para a comunicação de dados teríamos de usar equipamento que tivesse a modulação mais indicada», acrescenta Diogo Henriques.
No horizonte do Balua Project, há uma meta que se perfila: desenvolver no longo prazo um balão estratosférico controlável remotamente. O balão lançado no passado sábado ainda está longe de alcançar esse objetivo – e por isso, o final da missão contemplou um último desafio: prever onde o balão iria cair nos 30 minutos de queda amparada por um paraquedas e por fim descobri-lo quando cai por terra. Pode ser num local ermo ou no meio de uma cidade – só a direção e a força dos ventos pode decidir o destino final. No sábado, o balão caiu a 700 metros da fronteira portuguesa, já do lado Espanhol e um pouco a norte da cidade de Badajoz.
Durante a missão de reencontro, os alunos e ex-alunos do Técnico contaram com a ajuda das coordenadas fornecidas pelas constelações de satélites GlobalStar e GPS (comunicadas por rádios APRS.fi). Por fim, quando os investigadores já estão nas imediações, os investigadores recolheram o sinal de beacon direcional para descobrir o paradeiro do repetidor de rádio, depois da descida dos céus.
«Antes do lançamento seguimos as previsões meteorológicas do National Oceanic and Atmospheric Administration (dos EUA) e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para fazermos as estimativas quanto ao local onde vai cair o balão. O tempo de voo é determinado pelo hélio existente no balão. E é assim que definimos os planos de voo», descreve Diogo Henriques.
As previsões não impediram alguns imprevistos: inicialmente, o plano de voo previa uma “aterragem” em solo nacional, mas a orientação dos ventos a meio do voo acabou por levar o balão para a raia espanhola. «Os equipamentos estavam 100% operacionais e sem avarias. Foi a primeira vez que isto aconteceu nos nossos ensaios», conclui Diogo Henriques.
No vídeo produzido pela LARS, e que se encontra inserido nesta página, pode ver como decorreu o mais recente lançamento do Balua Project.