O OpenQuake pode não evitar sismos – mas revela o impacto que estas catástrofes naturais podem ter em várias latitudes. O software que foi apresentado hoje pela Universidade de Aveiro como único no mundo, dá, a título ilustrativo das capacidades de previsão, um exemplo bem conhecido de Portugal: Caso se repita um sismo de magnitude 8, no mesmo epicentro do Terramoto de Lisboa de 1755, serão registadas mais de 10 mil mortes e o PIB português registará um decréscimo abrupto de 30%.
Segundo comunicado da UA o software faz as previsões com base no Global Earthquake Model, que foi lançado através de uma parceria público-privada iniciada em 2006 pelo Fórum Global de Ciência da OCDE. O Global Earthquake Model usa bases de dados e ferramentas de avaliação de risco que permitem fazer previsões para vários pontos do Globo.
Para fazer uma previsão, o software desenvolvido em Aveiro exige ainda a inserção de dados sobre placas tectónicas; falhas geológicas de cada local; valor dos edifícios e taxa de ocupação; e dados sobre a qualidade da construção e estado de conservação dos imóveis.
As previsões podem incidir sobre um país, uma cidade, ou apenas uma rua. A plataforma pode apurar quais as áreas que devem ser alvo de medidas que menorizem o impacto de um sismo. No caso de Portugal, as previsões foram feitas com base na recolha de dados relativos às construção civil dos últimos 100 anos, junto de várias instituições públicas. Materiais, técnicas de construção usadas, valor patrimonial, falhas tectónicas e taxa de ocupação são algumas das variáveis analisadas.
Com base nesta informação, o OpenQuake apurou que, em geral, o país está mais bem preparado para um sismo, mas há duas exceções em que, pelo contrário, o impacto causado pelos sismos aumentou: “É claro que um grande sismo irá acontecer mais cedo ou mais tarde em Portugal e o cenário para Lisboa e Algarve será bastante desastroso”, alerta Vitor Silva.
Desenvolvido como uma ferramenta open-source durante uma tese de doutoramento de Vitor Silva, o OpenQuake distingue-se ainda por apresentar as previsões com base num mapa das freguesias do País. Vítor Silva recorda que a nova ferramenta pode ser útil para cientistas e governantes saberem na hora o estado de resiliência de infraestruturas e edifício de um determinado local.
É precisamente com o objetivo de criar um sistema de previsões de impactos de sismos em tempo real que o OpenQuake começou a ser usado pelo PRISE, projeto que reúne várias entidades nacionais e que é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. «Quando este projeto terminar daqui a um ano, caso ocorra um sismo em qualquer parte do país, será possível numa questão de minutos, estimar quais as zonas do território mais atingidas e que, consequentemente, merecem especial atenção e meios de suporte», garante Vítor Silva, através do comunicado da UA.
Lá fora, o OpenQuake o tem sido usado em parceria com o United States Geological Survey, dos EUA para estimar o impacto de terramotos nos vários países. As estimativas são feitas em termos de vidas humanas afetadas e custos económicos.