Desde 2004 que António Abreu tem vindo a desenvolver uma solução que transfere energia sem recorrer a cabos. Em 2005, a solução começou a ser testada em pacemakers. Nos anos que se seguiram, foi aplicada a desfibrilhadores, que consomem bastante mais energia. O projeto deu mais um passo rumo à comercialização durante um doutoramento no Programa MIT Portugal. Depois de garantir uma patente válida para o mercado dos EUA, o investigador do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) estabeleceu as primeiras parcerias com empresas bem posicionadas no segmento das tecnologias da saúde. «Atualmente, a tecnologia está em testes. A data de estreia comercial depende em parte dos resultados destes testes», informa António Abreu, sem adiantar as denominações dos parceiros, que demonstraram interesse em desenvolver a nova geração de implantes que podem ser carregados a partir do exterior do corpo humano.
A solução desenvolvida por António Abreu tem por base a comunicação sem fios na faixa dos 100 KHz. Além de transferir energia, o protótipo tem a vantagem de transmitir dados no sentido do implante e vice-versa. O que pode ser suficiente para reprogramar o implante ou obter dados relativos ao seu funcionamento. Nos testes efetuados com carne e órgãos de porco, António Abreu conseguiu demonstrar que a solução está apta a transmitir vídeos e sons e, não menos importante, não sofre interferências causadas pelos líquidos, substâncias salinas e tecidos das coibaias.
António Abreu recorda que a transmissão de energia sem fios pode ajudar a mudar o paradigma que hoje domina os implantes nos humanos, poupando os pacientes a cirurgias para substituição de implantes ou das respetivas baterias.
Até à data, os testes têm incidido no carregamento de baterias de pacemakers, que funcionam com correntes elétricas de 2,5 volts, e também em desfibrilhadores, que atingem correntes de 750 volts sempre que intervêm no sentido de pôr o coração a funcionar. «Uma bateria de um desfibrilhador pode armazenar a 40 Joules. O nosso sistema permite transferir essa energia em 10 segundos. O que tanto pode ser útil para agilizar situações de recarregamento que são rotineiras, como também para, numa situação de emergência, carregar um esfibrilhador com a energia suficiente para evitar que um coração pare de funcionar», explica António Abreu.
O emissor de energia tem a dimensão de uma «bolacha maria». A transmissão de energia e dados apenas exige que este pequeno emissor seja encostado sobre o local do corpo em que se encontra o implante.
Apesar de potenciar o aparecimento de uma nova geração de implantes, o novo sistema de transmissão de energia transcutâneo não pode ser usado nos implantes e próteses, que hoje são usados por milhões de pessoas. O que obrigará a lançar implantes compatíveis no futuro. António Abreu explica porquê: «esta solução apenas pode ser usada em implantes que tenham uma bobine que permite receber a energia que enviada a partir do exterior».