Alguns especialistas não se coibiram de fazer chacota no Twitter; outros preferiram enaltecer os benefícios do projeto idealizado por Dennis Tito, o primeiro turista espacial, que agora quer voltar a fazer história dando um tiro de partida na corrida a Marte em missões tripuladas.
A data já está fixada: no dia 5 de janeiro de 2018, um vaivém construído para o efeito deverá ser lançado da Terra rumo ao planeta vermelho; se tudo correr bem, o vaivém deverá chegar a pouco mais de 150 quilómetros de distância de Marte passados 228 dias (a missão não prevê aterragem no planeta); o regresso a Terra deverá ser feito à boleia da gravidade numa viagem de 273 dias (regresso agendado para 21 de maio de 2019). No total, a viagem deverá durar 501 dias, a uma velocidade de cerca de 50 mil quilómetros por hora, informa a Cnet.
São várias as dúvidas em torno deste projeto – a começar pelas datas. Desenvolver um vaivém em menos de cinco anos aparenta ser uma missão difícil de cumprir, tendo em conta o atual estado da indústria espacial. Dennis Tito não parece intimidado: o empresário pretende financiar os próximos dois anos de trabalho e investigação da recém-constituída Inspiration Mars Foundation. Posteriormente, deverão ser angariados fundos junto de investidores privados.
Dennis Tito admite que o desenvolvimento do novo vaivém possa ter um custo de similar ao das missões que a Nasa tem levado a cabo em Marte (o envio da sonda robótica Curiosity teve um custo orçamentado de 25 mil milhões de dólares).
O facto de ser uma missão tripulada também pode complicar os objetivos do projeto liderado por Dennis Tito. No roteiro do projeto consta o desenvolvimento de vaivém composto por um módulo usado que assegura a propulsão e o lançamento e ainda um habitáculo “insuflável” de 34 metros cúbicos. Este espaço deverá ser ocupado pelos dois astronautas (o projeto menciona um homem e de uma mulher) e ainda por todos os mantimentos, objetos e maquinaria de uso diário.
Além de manobrarem o veículo espacial, os astronautas deverão estar aptos a reparar falhas ou avarias com que se vão deparar no quotidiano. A visita aos “arredores” de Marte tem tudo para ser “a viagem de uma vida”, mas também envolve múltiplos riscos e imprevistos. Muitos deles serão desconhecidos, mas há outros que já foram identificados: uma viagem de 501 dias poderia representar um acréscimo de três por cento nas probabilidades dos dois astronautas padecerem de cancro durante os respetivos períodos de vida.
Este fator seria suficiente para, por exemplo, a Nasa abandonar o projeto – mas não será suficiente para Dennis Tito deixar de investir o seu dinheiro Inspiration Mars Foundation. Dentro de cinco anos, se verá se foi apenas excesso de futurismo.