O Ariane 6 partiu com sucesso rumo ao Espaço, levando consigo um conjunto de nanossatélites, incluindo o satélite universitário português ISTSat-1, e experiências científicas. Apesar de um pequeno problema técnico (que foi prontamente resolvido) ter obrigado a um atraso de cerca de uma hora no horário anteriormente avançado pela Agência Espacial Europeia (ESA), o novo foguetão europeu finalmente levantou voo a partir do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa, pelas 16h00 locais (20h00 na hora de Lisboa).
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O percurso do foguetão esteve a ser monitorizado pelas estações terrestres da ESA um pouco por todo o mundo. A estação da ESA em Santa Maria, nos Açores, fez parte desta lista, acompanhando a primeira fase de voo.
Ainda antes da partida do Ariane 6 e durante o evento “Técnico lança Oeiras no Espaço”, que a Exame Informática teve a oportunidade de acompanhar, o investigador Rui Rocha, coordenador no projeto do satélite ISTSat-1, e Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa (ambos na Guiana Francesa), assim como e João Neves, gestor aeroespacial na Thales-Edisoft Portugal (na estação da ESA em Santa Maria, Açores) juntaram-se remotamente para acompanhar o momento.
Veja o lançamento do foguetão Ariane 6
Poucos minutos após o lançamento bem-sucedido, e com o foguetão já no Espaço, o estágio superior separou-se no estágio principal, com o motor Vinci a acender, avançando na primeira de três fases de voo. Mais de uma hora depois, o voo entrou na sua segunda fase, com a colocação em órbita dos primeiros satélites e experiências a suceder pelas 21h00 (hora de Lisboa).
A cerca de duas horas e meia após o lançamento, as equipas de controlo do foguetão detetaram uma anomalia, com o estágio superior do foguetão a desviar-se da rota planeada para a fase final.
Europe is back in space! #Ariane6 demonstrated a successful liftoff, launch to orbit and deployment of satellites powering Europe into space.
— European Space Agency (@esa) July 9, 2024
The tech-demo phase of Ariane 6 is still in progress but has shown an unexpected result which will only affect the end of the mission.… pic.twitter.com/1VBzQ25Q3o
Numa conferência de imprensa online, após a transmissão do lançamento, Josef Aschbacher, Diretor-Geral da ESA, começou por destacar o momento histórico que o voo inaugural do Ariane 6 representou, marcando o regresso da Europa aos lançamentos espaciais. O sentimento foi partilhado pelos responsáveis da missão, que, em linha com o Diretor-Geral da ESA, consideraram a estreia do foguetão um sucesso. A equipa está preparada para fazer um próximo lançamento até ao final deste ano, com vista a mais seis no ano seguinte.
No que respeita à anomalia registada durante a fase de demonstração tecnológica do Ariane 6, os responsáveis explicam que o motor do estágio superior não reacendeu como planeado, o que acabou por mudar o rumo do segmento final da missão. Para já, o motivo é desconhecido, mas as equipas responsáveis estão a analisar os dados para compreender o que se passou e tencionam publicar o resultado dessa análise assim que possível.
Da Terra ao Espaço: o voo inaugural do Ariane 6
Como explica a ESA, o voo inaugural decorrerá em três fases. Na primeira, a propulsão assegurada pelo motor Vulcain 2.1 e pelos propulsores P120C desempenha um papel fundamental no lançamento. Quando o foguetão chegar ao Espaço, segue-se a separação do estágio principal do estágio superior. Este segundo estágio, que transporta a carga científica da missão, será depois colocado numa órbita elíptica (a uma distância entre 300 e 700 km da Terra) graças ao motor Vini.
Se tudo correr como planeado, o voo entrará na sua segunda fase, com o motor do estágio superior a reacender, levando-o para uma nova órbita, neste caso, circular (a uma distância de 580 km da Terra). A partir daqui, os nanosatélites e experiências científicas a bordo serão projetados para o Espaço de modo faseado. Por exemplo, o português ISTSat-1 será implementado na segunda fase deste processo, acompanhado pelos nanossatélites 3Cat-4 e GRBBeta.
Com todos os nanosatélites e experiências no ‘sítio’ certo, o voo entra na terceira fase. Aqui, o estágio superior do Ariane 6 reacende por uma última vez para dar início à reentrada controlada na Terra, num processo feito sobre o Oceano Pacífico, mais especificamente no ‘Ponto Nemo’.
O estágio superior do Ariane 6 conta com duas cápsulas de reentrada que, nesta fase, se vão separar antes de reentrarem na atmosfera terrestre. A ESA detalha que, antes do estágio superior passar pela reentrada, será enviado um último comando que desativa a energia a bordo para evitar explosões durante este processo.
O momento reveste-se de especial importância para a exploração espacial europeia. Recorde-se que o antecessor do novo foguetão, o Ariane 5, foi operado pela Agência Espacial Europeia (ESA) até 2023. Inicialmente, o objetivo era retomar imediatamente as missões com o Ariane 6, mas vários atrasos no desenvolvimento do foguetão levaram a uma mudança de planos, com a ESA a recorrer aos serviços de empresas como a norte-americana SpaceX.
Espera-se o voo inaugural do Ariane 6 abra a porta a uma “nova era de viagens espaciais europeias, autónomas e versáteis”, com vista a “reestabelecer o acesso independente da Europa ao Espaço”, nas palavras de Josef Aschbacher, Diretor-Geral da ESA, durante o anúncio oficial da data para o lançamento do foguetão.
Recorde-se que o satélite ISTSat-1 foi selecionado pela ESA para voar a bordo do Ariane 6 no âmbito do projeto Fly your Satellite. Com excepção dos painéis solares, o ISTSat-1 foi desenvolvido integralmente por estudantes e professores do Técnico. Este pequeno cubo de 10x10x10, com arestas com 10cm, terá como missão testar a capacidade de deteção da presença de aviões em zonas remotas.
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O projeto foi coordenado por Rui Rocha, professor do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores (DEEC) do IST, investigador no Instituto de Telecomunicações (IT) e diretor e um dos fundadores do IST NanosatLab.
O IST NanosatLab, consórcio reunido desde 2022 em torno do projeto, é liderado pelo pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores: Investigação e Desenvolvimento (INESC-ID) e dirigido por Rui Rocha e Gonçalo Tavares (INESC-ID).
Nota de redação: A notícia foi atualizada com mais informação após o final da missão e conferência de imprensa da ESA. (Última atualização: 00h06)