Uma nova investigação revela que Plutão capturou a sua atual lua Charon através de um processo de ‘beijo-e-captura’, que terá acontecido há milhares de milhões de anos. Investigadores da Universidade do Arizona sugerem que estes dois mundos gelados faziam parte da cintura de Kuiper e colidiram um com o outro há muito, muito tempo, mas, em vez de se obliterarem nessa colisão, acabaram por estar ligados orbitalmente durante umas horas, no que se assemelha a um beijo. Depois dessa união, os dois separaram-se e deram origem ao sistema de Plutão e Charon, planeta-anão e lua, que conhecemos atualmente.
“O processo desta captura de colisão é ‘beijo-e-captura’ porque Plutão e Charon uniram-se brevemente, o elemento do ‘beijo’, antes de se separarem e formarem dois corpos independentes”, explica Adeene Denton, da equipa universitária que publicou o estudo agora na Nature Geoscience.
A maior parte dos cenários de colisão planetária estão classificados como ‘embate-e-fuga’ ou ‘ralar-e-fundir’, pelo que uma situação de ‘beijo e captura’ é algo nunca antes registado. Este cenário ajuda a explicar como Plutão foi capaz de capturar uma lua que é comparativamente gigante, tendo metade do tamanho deste. “Charon é ENORME comparada com Plutão, ao ponto de os considerarmos um binário. Tem metade do tamanho de Plutão e apenas 12% da sua massa, o que a torna bastante mais parecida com a Lua da Terra do que com qualquer outra lua do sistema solar”, continua Devon, em explicações ao Space.com. Para termos comparação, a ‘nossa’ Lua mede um quarto do tamanho da Terra e Ganímedes mede 1/28 avos do seu planeta parente, Júpiter.
A relativamente pequena diferença de tamanho entre planeta e lua torna difícil que o processo de aquisição desta lua tenha acontecido de forma ‘normal’, ou seja, com a captura gravitacional como as luas de Marte, Júpiter ou Saturno. Assim, o processo de ‘beijo-e-captura’ apresenta-se como um cenário mais provável. Durante uma captura por colisão, há uma colisão massiva a acontecer e os dois corpos esticam-se e deforma-se de forma fluída. No processo de Plutão, deve ser ainda considerada a força estrutural dos corpos rochosos e gelados, algo que tinha sido ignorado até agora.
A equipa da Universidade do Arizona usou um cluster de computadores de alto desempenho para correr a simulação, colocando a força estrutural como fator que, se não existisse, veria os corpos a fundir-se um com o outro. Com a força a ser considerada, Plutão e Charon mantêm-se estruturalmente intactos durante a sua breve fusão, o tal beijo.
Devon conta que “neste ‘beijo’, a fusão foi muito breve, em termos geológicos, durando 10 a 15 horas antes de os corpos se separarem novamente. Charon começou a afastar-se lentamente em direção à sua posição atual. As grandes colisões típicas são fusões, onde os corpos se juntam ou ambos se mantêm independentes. Por isso, isto foi novo para nós. Também levanta questões geológicas interessantes que gostaríamos de testar, para saber se o processo ‘beijo-e-captura’ só funciona devido ao estado termal de Plutão, que podemos depois ligar à geologia contemporânea de Plutão para testar. Gostaria de determinar como o impacto inicial Plutão-Charon pode influenciar se e como Plutão e Charon desenvolvem oceanos”.