O email chegou há duas semanas, mas Pedro Caetano, 33 anos, ainda nem deu muita atenção ao que lá vinha escrito. Sabe que foi selecionado, que deverá estar em Hamburgo, na Alemanha, na semana de 20 a 24 de setembro e que à sua espera terá quatro tipos de testes para avaliar a sua capacidade de tomar decisões, de resolver problemas e cumprir tarefas. Na missiva, enviada pela Agência Espacial Europeia (ESA), o médico, especialista em medicina aeronáutica e aeroespacial do Hospital CUF Porto, ficou a saber que passara à fase seguinte do concorridíssimo concurso para astronautas, lançado pela Agência em março deste ano, doze anos após o último processo de seleção.
Com praticamente 23 mil candidaturas, o que superou as melhores expectativas (em 2008 concorreram cerca de 8500 pessoas), passarão à fase seguinte apenas dez por cento dos candidatos. “O email era muito claro, ou eu aceitava as datas propostas ou era eliminado do processo”, relata Pedro Caetano. Com uma agenda cheia, Pedro Caetano ainda não teve tempo para refletir muito sobre esta vitória nem sequer experimentar resolver os exercícios de treino enviados pela ESA. “Mais próximo da data pensarei mais a sério no assunto”, conta. “Ainda não me caiu a ficha”. De qualquer forma, com o email vinha a aviso de que os candidatos não deveriam treinar demasiado para não adquirirem vícios que possam vir a comprometer a capacidade de resposta no dia dos testes reais.
Até há dois dias, Pedro, que acabou por ficar a conhecer boa parte dos 321 candidatos portugueses, quer por conversas informais quer pela sua atividade clínica, sendo responsável por passar a declaração médica exigida, não sabia de mais ninguém que também já tivesse sido chamado. Para já, e pelo que pôde apurar, neste momento há dois portugueses que passaram à segunda etapa. Esta seleção inicial foi feita com base no currículo e num questionário, de acordo com o qual era atribuída uma pontuação, na qual se baseia a passagem à fase seguinte.
Tal como se costuma dizer no mundo do desporto, o mais importante para Pedro Caetano é “participar”. Até porque no seu caso, o próprio processo de seleção acaba por ser uma oportunidade de formação e uma maneira de chegar mais perto de outra das suas ambições profissionais que é praticar medicina aeroespacial. “Quando estive em formação nos EUA [na NASA] pude ver como é que se fazem os testes. Mas poder passar por eles dar-me-ia um conhecimento mais aprofundado acerca do processo”, comenta. Para lá chegar, à fase dos testes médicos, complexos e exaustivos, Pedro tem de ultrapassar esta segunda etapa. “Os meus amigos às vezes gozam comigo, mas posso dizer que a maior parte das pessoas que me rodeiam está contente por mim”, revela.
Depois de ter aceitado a data dos testes – que também vão decorrer noutra das sedes da ESA, em Colónia – Pedro teve de comprometer-se a guardar sigilo total acerca do que lá se vier a passar – “tive de assinar três acordos de confidencialidade”, revela. E durante as provas estão proibidas as fotos e qualquer partilha de informação com quem quer que seja. Está, portanto, descartada a selfie ‘candidato a astronauta presta provas’.
Os resultados serão divulgados no final de 2022, sendo que o processo de seleção de astronautas da ESA consiste em seis etapas. Em 2008, concorreram 210 portugueses, sendo que na altura a expectativa de virmos a ter um astronauta português era bastante diminuta. Atualmente, com uma agência espacial portuguesa, candidatos bem qualificados e uma aposta nacional clara no setor do espaço, há quem mantenha a esperança de que agora é que é. Se não para os quatro a seis membros permanentes, pelo menos para os 20 suplentes. Sempre é um começo.