Em 2009 apareceram 200 portugueses com o sonho de chegar a astronauta. Como é sabido, nenhum chegou ao fim do concurso para astronautas da Agência Espacial Europeia (ESA), que em 2009 escolheu dez pessoas. Onze anos depois, a ESA volta a lançar um processo de seleção e já há portugueses a demonstrar interesse em descolar da Terra, relata o médico com formação em Medicina Aeroespacial, Pedro Caetano, 33 anos, que atende no Instituto Cuf Porto.
Se da última vez concorreram nove mil europeus, para dez vagas, desta vez a agência está à espera de receber à volta de 30 mil candidaturas, para 26 lugares: seis de astronautas permanentes e vinte de reserva, para missões pontuais. Formado em 2014 pela NASA e em 2019 pela ESA, é a primeira vez que Pedro Caetano terá oportunidade de pôr todos os conhecimentos em prática para avaliar uma parte fundamental neste processo de recrutamento em seis etapas, a saúde e a condição física.
“Basicamente, é fazer um check up completo”, esclarece. Nesta primeira fase do recrutamento, os candidatos têm de apresentar um certificado médico de um especialista em saúde aeronáutica sendo os requisitos equivalentes ao que os pilotos particulares realizam – o chamado exame médico aeronáutico classe 2. O que exige análises ao sangue, eletrocardiograma, audiograma, exame oftalmológico e otorrino e avaliação psiquiátrica.
As candidaturas vão decorrer entre 31 de março e 28 de maio, mas o grupo de eleitos só deverá ser conhecido lá para outubro de 2022. Além da novidade do grupo de reserva, desta vez também serão admitidos candidatos com limitações físicas. A ESA já demonstrou também um grande interesse em admitir mulheres – da última vez só a italiana Samantha Cristoforetti foi admitida. “Há onze anos 84% dos candidatos eram homens”, observa Pedro Caetano que tem a paixão pelo espaço desde miúdo. Longe vai o tempo em que questões fisiológicas, como a perda de massa óssea e muscular que acontece a um ritmo acelerado no espaço era uma limitação à admissão de mulheres. “Evoluiu-se muito nos últimos vinte anos e hoje em dia a forma de combater este problema é tão eficaz, com protocolos muito bem definidos, que alguns astronautas voltam do espaço melhores do que foram.”
Até agora, na sua consulta na Cuf o médico tem atendido sobretudo pilotos e pessoal de cabine que depois de uma série de exames recebem um atestado a comprovar a aptidão. “Não é obrigatório que tudo seja perfeito. A pessoa pode ser dada como apta, ou apta com limitações”, esclarece Pedro Caetano. Agora, na hora de escolher, numa fase posterior, o mais provável é ficar aquele que estiver mais próximo de ser um super-herói.