Chegados a esta altura do ano surge uma febre de consumo que nos alucina. Sucedem-se pretextos para gastarmos o nosso dinheiro – que é necessário por a economia a carburar – como sejam a Black Friday – que se transformou na Black Week –, ou a euforia das compras de Natal. O fundamental é que gastemos o que temos e, maioria das vezes, o que não temos, para dar dinheiro a ganhar aos outros, em troca de um Boost de felicidade instantâneo. Infelizmente, não paramos para pensar na causa desta inflamação, que tem consequências nefastas nas nossas vidas. Simplesmente, deixámos de valorizar os bens materiais, porque rapidamente perdem o valor hedónico que traziam associado. Esta perda faz com que nunca estejamos saciados, querendo sempre mais e mais.
O consumo natalício é o que mais me fascina. Para uns, o Natal celebra o Nascimento de Jesus, figura cujo a vida simples nos deixa um exemplo claro de desprendimento ou desapego pelos bens materiais e foco nas relações de amor e de amizade com os outros – tendo inclusivamente morrido por eles. Nasce numa família pobre e morre despojado das suas vestes. Para outros, esta quadra é um pretexto muito bom para celebrar a união familiar, que se espera saia reforçada. Para todos, ou quase, é uma época de dar (muitos) presentes, mesmo em momentos de crise económica e quando não há dinheiro, porque o cartão de crédito está disponível.
Qualquer que seja a nossa visão do Natal, talvez fosse interessante aproveitarmos esta altura e o virar de um novo ano para refletirmos sobre aquilo que é realmente importante nas nossas vidas. Refletir, também, sobre o papel que o dinheiro, o consumo e os bens materiais têm no nosso dia-a-dia, o que certamente nos ajudará a mudar alguns hábitos e a reforçar outros. Isto porque rapidamente perceberemos que a nossa felicidade não se encontra nos bens materiais e que as melhores coisas na vida, aquelas que têm muito valor, não têm um preço.
Gostaria de deixar claro que os bens materiais são algo muito bom. As nossas vidas não teriam o conforto, a qualidade e a longevidade que têm se não tivéssemos vários dos bens e serviços de que dispomos atualmente, que nos abrem oportunidades que devemos ter a inteligência de aproveitar. Sendo certo que são importantes, por vezes assumem uma importância excessiva, porque desenquadrados da sua finalidade. Porque deixam de ser o garante de qualidade de vida para ser a medida com que nos avaliamos – individualmente – e nos comparamos com os outros.
Não será demais salientar os efeitos terríveis que a comparação social tem nos nossos níveis de felicidade. Viver para impressionar ou para superar implica que não vivemos para nós, mas para os outros. Simplesmente não temos noção de que os outros estão mais preocupados com as suas vidas do que com a marca do nosso carro. Como corolário, basta ver as relações familiares que temos. Os nossos filhos certamente valorizarão muito mais o tempo de qualidade e a disponibilidade que lhes demonstramos do que o presente que lhes demos. Sim, no curto prazo o presente traz consigo um impulso de prazer, mas que rapidamente desaparece. Mas no longo prazo, o que fica são as memórias e os bons sentimentos. Assim, como dizia alguém, comparar é perder a alegria, por isso por que não parar de o fazer?
Nesta altura deixamos o desafio de pensar diferente. Refletir em família sobre o que é prioritário e o que é acessório e começar a preparar um novo ano, que se estima de desafios que certamente darão muito gozo de superar. Para ajudar, salientamos a importância da definição de objetivos, da construção do orçamento familiar – se preferir chame-lhe de plano de liberdade financeira, que vai descobrir muito desperdício financeiro na sua vida – e o início de um programa de entregas automáticas para a sua conta da liberdade. Torne o processo automático e comece primeiro a pagar a si próprio!
Embora possa não ser fácil, ter sucesso financeiro é simples. Implica planear e executar. Implica diálogo e o desenvolvimento de hábitos saudáveis de consumo. Implica certamente controlar impulsos e colocar o dinheiro no seu devido lugar. Implica, finalmente, perceber que somos nós que controlamos as coisas e que, nunca, devemos deixar que estas nos controlem.