Aspirar, lê-se no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, significa ter desejo veemente ou pretensão. E, acrescento eu, é totalmente livre de impostos e não está sujeito à inflação, o que coloca esta intenção ao alcance de qualquer pessoa.
Contudo, quando falamos de desenvolvimento de carreira, assim como em quase tudo na vida, desejar pode ser um motor muito potente, mas não suficiente para nos levar ao destino final. O desejo ajuda na descolagem, mas é a ação (estratégica) que garante que aterramos no sítio certo.
Então, quando devo começar a agir? Na minha opinião, ontem! Para as que esbarraram nesta frase e já estão no labirinto “só trabalho há dois ou três anos… ainda nem estou nos 30… Ainda por cima sou mulher! Os cargos de liderança são para pessoas acima dos 40, e os mais relevantes acima dos 50!”, proponho que vejam a questão noutra perspetiva. É à nossa geração que cabe quebrar essas barreiras. Como? Com uma boa preparação, e que deve começar o mais cedo possível.
Vejo quatro ingredientes-chave nesta estratégia de ascensão a líder: criar networking, investir em formação, encontrar figuras de referência e gostar de pessoas. Olhemos com maior detalhe para esta receita.
Networking. Começo por aqui porque sempre foi o meu ‘calcanhar de Aquiles’. Para te libertares dos preconceitos que podes ter associados a esta atividade, é crucial compreender que, quando bem feita, é algo positivo para ambas as partes. Tens interesse em desenvolver uma poderosa rede de contactos, mas também tens algo a acrescentar a essa rede, seja na tua organização ou fora dela. Encara esta atividade com diversão, vai com confiança, vai sozinha, não leves bengala. “O melhor networking faz-se quando estamos sozinhas.” Sempre que surge um frio na barriga antes de um momento que me exige que ative esta competência, volto a esta frase, ouvida numa das sessões do Programa YOUTH, da PWN Lisbon, e avanço.
Este ponto leva-me diretamente ao 2.º ingrediente – Formação. Investe continuamente em ti, no teu desenvolvimento. Falta de tempo ou dinheiro são falácias para a nossa própria acomodação. Existem hoje inúmeras alternativas remotas, com baixo investimento financeiro e com elevado retorno. Dei já o exemplo do YOUTH, com o qual me cruzei num momento em que me sentia completamente atropelada pela vida e sem tempo para nada. Confiei na recomendação de uma amiga e conheci pessoas incríveis, que me guiaram no desenvolvimento de temas de empoderamento feminino, marca pessoal e profissional, liderança, entre tantos outros. Porque às vezes só precisamos de parar para ver as coisas sob outra perspetiva. A próxima edição está mesmo aí – aproveita!
3.º ingrediente, figuras de referência. Identifica pessoas com características que ambicionas desenvolver e deixa-te inspirar. E aqui não há limites: procura na tua organização, encontra um mentor informal que acompanhe o teu percurso, segue ícones internacionais nas redes sociais, tira partido do networking para conhecer aquela pessoa que é para ti ummodelo a seguir.
Em 4.º e último, garante que gostas de pessoas ou podes riscar os três passos anteriores e dedicar-te a uma carreira de especialista. Como assim? Sim, ser líder não é sobre ti, é sobre os outros. É sobre motivar (pessoas), inspirar (pessoas), influenciar (pessoas) e gerir pessoas de forma a atingirem um objetivo comum.
Deixo-te com uma questão, a mais impactante e transformadora que já ouvi sobre liderança: Como queres ser levada para a casa das pessoas que lideras? Inevitavelmente, vais acabar por “ser levada” para a hora do jantar ou para as férias em família. Quem queres ser? Pensa nisso – e começa ontem a procurar quem te ajude a encontrar a resposta.
Termino como comecei: falando em ação estratégica. Escolhe bem as tuas batalhas. Descobre o que faz “brilhar os olhos” da tua organização e investe nisso. É fácil, principalmente no início de carreira, cair na tentação de querer fazer tudo, tudo perfeito e tudo para ontem. Esta tentação pode ser o bilhete que nos transporta diretamente para a espiral da exaustão. Não embarques nessa viagem e lembra-te de que o caminho para ser líder não implica um sim a todo o custo.