O índice de compra dos gestores (PMI, na sigla em inglês) é um indicador avançado que permite tirar o pulso à economia. E os últimos dados mostram que a economia da Zona Euro pode estar em território de recessão. Os sinais vindos do setor industrial continuam a ser muito fracos e os serviços, a área, que estava a segurar a atividade do bloco económico, aparenta estar a perder gás.
A leitura preliminar do índice PMI para a Zona Euro em julho caiu de 49,9 para 48,9, o valor mais baixo em oito meses e um número pior que o esperado pelos analistas. Valores abaixo de 50 tendem a sinalizar a que a atividade económica está a contrair. Na atividade industrial o indicador caiu para 42,7, um mínimo de 38 meses. Este setor “continua a ser o calcanhar de Aquiles da Zona Euro”, considera Cyrus de la Rubia. O economista-chefe do Hamburg Commercial Bank, uma das entidades responsáveis pelo cálculo do índice PMI, refere, numa nota, que “os produtores voltaram a cortar a produção a um rimo mais acelerar em julho”.
Já o setor dos serviços, apesar de estar ainda em expansão, abrandou o ritmo de crescimento. Conclusão: “A economia da Zona Euro deverá, muito provavelmente, entrar ainda mais em território de contração nos próximos meses”, diz Cyrus de la Rubia. Também os economistas do banco ING, num relatório, interpretaram estes dados como mais um indício de que os riscos de recessão na Zona Euro se estão a avolumar.
BCE deve subir juros, mas debate pode aumentar
Apesar dos sinais de fragilidade da economia da Zona Euro, o consenso dos economistas é de que o Banco Central Europeu irá decidir mais um agravamento das taxas diretoras na próxima quinta-feira. Os dados dos inquéritos PMI mostraram algum abrandamento das pressões inflacionistas. Mas a retórica vinda de Frankfurt é que as políticas restritivas são para continuar enquanto o índice de preços não regressar para valores em torno de 2%. Em junho, a inflação estava ainda em 5,5%.
Christine Lagarde sinalizou que na reunião de 27 de julho deverá haver um novo agravamento dos juros em 25 pontos base, o que colocaria a taxa das operações principais de refinanciamento em 4,25% e a da facilidade de depósito em 3,75%, os valores mais altos desde 2001.
No entanto, os indicadores de perigo em torno de uma recessão na Zona Euro poderão levar a um debate entre os responsáveis do BCE sobre a estratégia que deverá ser seguida nos próximos meses. “Os sinais de arrefecimento na economia e de uma menor pressão inflacionista tornarão a discussão sobre até que ponto o BCE deverá ir mais controversa”, referem os economistas do ING. Acrescentam que “com os preços mais baixos que o esperado na energia, a descida dos preços dos alimentos e menos pressão nos preços tanto nos serviços como na indústria, a inflação pode descer mais rápido que o previsto pelo BCE, pelo menos após o Verão”.
No entanto, a decisão de fazer uma pausa na subida dos juros ficará dependente da própria avaliação que o BCE irá fazer da economia e do grau de preocupação com que olhará para estes indícios de recessão na Zona Euro. Alguns economistas esperam que, apesar dos sinais de perigo para a economia, o banco central ainda deverá avançar com um novo agravamento dos juros em setembro.