Nova reunião, novo aumento das taxas de juro. O Banco Central Europeu anunciou esta quinta-feira um agravamento de 0,25 pontos percentuais das taxas e a presidente da autoridade monetária, Christine Lagarde, considerou que ainda não se chegou ao fim do caminho da subida dos juros. Esse percurso foi iniciado em julho do ano passado e tem sido feito a uma velocidade estonteante. Desde aquela data, o BCE aumentou as taxas em todas as reuniões, num aperto total de 3,75 pontos percentuais. Confrontada com níveis de inflação a que não se assistiam já há algumas décadas, a autoridade monetária respondeu com o aperto de juros mais agressivo na história da moeda única.
Lagarde considerou esta quinta-feira, na conferência de imprensa em que explicou as decisões de política monetária, que os aumentos das taxas “estão a repercutir-se vigorosamente nas condições de financiamento e monetárias na área do euro, ao passo que os desfasamentos e a força da transmissão à economia real continuam a ser incertos”. Porém, continua a considerar que “as perspetivas de inflação continuam a ser demasiado elevadas durante demasiado tempo”. Em abril, o índice harmonizado de preços no consumidor aumentou 7%, após ter-se situado em 6,9% em março e em 8,5% em fevereiro.
Assim, e em relação à evolução futura dos juros, a presidente do BCE indicou que “é muito claro que não faremos uma pausa e que sabemos que ainda temos caminho a percorrer”. Apesar de o BCE ainda não ter chegado ao fim do ciclo de subida de juros, há sinais de que o banco central deixou de exercer tanta pressão no acelerador. O aumento de 0,25 pontos percentuais desta quinta-feira – que levou a taxa de depósito para 3,25% e a das principais operações de refinanciamento para 3,75% – foi o mais baixo desde julho do ano passado.
Nas reuniões anteriores, o banco central tinha subido os juros em 0,50 pontos percentuais. Os analistas duvidam de que Lagarde tenha margem para operar novas subidas dessa dimensão. “Será difícil para o BCE regressar a aumentos de 50 pontos base [0,50 pontos percentuais] no atual ambiente macroeconómico com o impacto diferido das subidas anteriores, instabilidade na banca, crescimento limitado e de inflação rígida”, consideraram os economistas do banco ING, num relatório.
Até onde podem subir os juros?
Mesmo neste cenário difícil, Lagarde deixou pistas de que os juros ainda poderão subir mais do que uma vez nos próximos tempos. “As futuras decisões do Conselho do BCE assegurarão que as taxas diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos para lograr um retorno atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo e sejam mantidas nesses níveis enquanto for necessário”, disse a líder do banco central.
A grande questão é quantas vezes é que as taxas ainda poderão subir? As perspetivas dos analistas não são unânimes. Holger Schmieding, economista do banco Berenberg, prevê, numa nota a investidores, novas subidas de 0,25 pontos percentuais nas próximas reuniões de junho e de julho. Frederik Ducrozet, diretor de research da Pictet Wealth Mangement, aponta, citado pela Reuters, para nova subida de 0,25 pontos percentuais em junho, não descartando o risco de o BCE voltar a repetir em dose em julho, dependendo da evolução do sistema bancário americano. Já Carsten Brzeski, do banco ING, considera que “o BCE entrou claramente na reta final do ciclo de subida e o pico das taxas pode estar bem mais perto do que Lagarde tentou fazer os mercados acreditar na conferência de imprensa”.
Além do agravamento das taxas diretoras – que se tem refletido na evolução das Euribor e aumentado os custos de financiamento para empresas e famílias – o BCE anunciou também que deixará de fazer reinvestimentos parciais dos títulos de dívida que comprou ao abrigo do antigo programa de ativos. “O Conselho do BCE espera descontinuar os reinvestimentos ao abrigo do APP a partir de julho de 2023”, indicou Lagarde. O objetivo é reduzir o balanço do banco central e diminuir o peso da autoridade monetária nos mercados de dívida. Já nas obrigações adquiridas no âmbito das compras de emergência pandémica, esses valores deverão ser reinvestidos até final de 2024.