Conhecida, sobretudo, pelas suas características e potencialidades vitivinícolas, a região do Douro pretende posicionar-se de outra forma no espectro internacional. Por essa razão, a Comunidade Intermunicipal do Douro (CIM Douro) anunciou que a partir desta quarta-feira conta com um oficial de ligação em Bruxelas: a Magellan European Affairs Consultancy.
A CIM Douro reúne 19 municípios e representa cerca de 200 mil habitantes, 250 mil hectares de área e quer agora mostrar que a região é muito mais do que uma zona bonita onde se faz bom vinho e para onde se atrai Turismo de Qualidade. Concretamente, a CIM Douro quer posicionar a região como espaço privilegiado para o desenvolvimento de sistemas de cibersegurança e de aposta nas energias renováveis, o que permitirá um desenvolvimento mais transversal e sustentado de uma região que atravessa sérios problemas de desertificação e envelhecimento.
Segundo os responsáveis, essa foi a razão pela qual sentiram necessidade de ter uma presença mais efetiva na capital das decisões políticas e económicas europeias. À EXAME, o presidente da CIM Douro, Luis Reguengo Machado, autarca de Santa Marta de Penaguião, explicou a importância desta iniciativa, numa entrevista por email.
Apresentam o Douro como potencial espaço de cibersegurança: podem concretizar algum projeto, objetivo ou iniciativa já em curso?
O Douro, conhecido mundialmente pela sua tradição vitivinícola, também apresenta um grande potencial no campo da tecnologia, especialmente na área de cibersegurança. Esse potencial é suportado pelo crescimento da infraestrutura tecnológica da região, com a chegada do 5G, que oferece uma base robusta para operações tecnológicas avançadas. Além disso, a região proporciona duas vantagens essenciais para atrair investimentos: um custo de vida competitivo e uma qualidade de vida elevada, o que favorece empresas que procuram reduzir custos operacionais e oferecer um ambiente atrativo para seus colaboradores, especialmente aqueles em trabalho remoto ou híbrido. A região também conta com um ecossistema educacional forte, destacando-se a UTAD e a proximidade com a Universidade do Porto e do Minho, além da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego, permitindo a formação e retenção de talentos em cibersegurança. Com ajuda destes parceiros pretendemos alavancar projetos na área da cibersegurança.
De que forma pode o Douro posicionar-se como exemplo a seguir, na vanguarda da sustentabilidade, tanto em termos de transportes como de outras atividades económicas?
A tradição agrícola e vinícola do Douro já inclui práticas alinhadas à economia circular, aproveitando eficientemente recursos como a terra, a água e resíduos agrícolas. No entanto, a região está empenhada em implementar medidas que aumentem a sustentabilidade, atendendo às exigências das mudanças climáticas, avanços tecnológicos e demandas do mercado global. Isso inclui o desenvolvimento de projetos para a Valorização dos Resíduos da Vinicultura, como a produção de biocombustíveis e fertilizantes orgânicos, e a criação de cosméticos e suplementos alimentares à base de uva. Além disso, há um foco em melhorar os sistemas de irrigação, reutilizar a água de forma eficiente e adotar práticas de agricultura regenerativa para aumentar a biodiversidade e a qualidade dos solos. Esse caminho está a ser trilhado, mas fruto das alterações climáticas tem de ser agilizado com urgência.
O projeto Douro Inland Waterway, que envolve vários municípios da CIM Douro, [e que concretiza a aposta nos transportes sustentáveis] visa melhorar a segurança, os sistemas de comunicação e de informação, e a navegação no rio Douro. Além disso, procura criar condições que facilitem o uso do rio como via de transporte, tanto para empresas de turismo que queiram expandir as suas frotas quanto para outras empresas, como as de transporte de mercadorias que ainda não utilizam o rio. A iniciativa foca-se também em implementar sistemas de transporte que reduzam emissões de carbono, promovendo uma mobilidade mais eficiente e aliviando a pressão sobre a infraestrutura rodoviária da região. Este projeto faz parte de um esforço mais amplo para garantir um futuro sustentável para o Douro.
A região tem sido uma das mais penalizadas em termos de desertificação: que iniciativas e projetos estão a ser pensados para voltar a tornar as atividades agrícolas – extremamente relevantes para a economia local – atrativas?
A questão demográfica é um desafio central para o Douro e outras regiões de baixa densidade populacional. Para combater esse problema não podemos continuar a utilizar processos passivos do passado. Porque se queremos pessoas temos de criar emprego e para criar emprego só existe uma via: atrair investimento. Neste domínio, a CIM Douro tem em preparação a agência de atração de investimento que, em sintonia com esta representação permanente junto da união europeia, ajudará a alavancar o investimento externo no Douro e a diversificá-lo, saindo da presente dicotomia: Vinho / Turismo.
Quais consideram ser as ações prioritárias para voltar a colocar o Douro na mira dos jovens que podem garantir o futuro da região?
Para atrair jovens para o Douro, é fundamental criar um ambiente que favoreça o empreendedorismo, a inovação e a qualidade de vida, integrando os polos de conhecimento e investigação da região. A presença da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), com destaque no Top 100 de Universidades mais sustentáveis do mundo e o seu eco-campus, bem como o Instituto Politécnico de Viseu (IPV) e a Escola de Hotelaria e Turismo do Douro-Lamego, proporcionam formação de excelência e atraem talento nacional e internacional. Esses centros educativos fornecem recursos humanos altamente qualificados, fundamentais para setores como a vinicultura, a agroindústria e outras indústrias modernas com elevado grau de inovação. A região beneficia ainda de uma atualização tecnológica que impulsiona uma nova economia, apoiada em setores de elevada intensidade tecnológica e na valorização dos recursos locais. A implementação de programas tecnológicos, aliada ao desenvolvimento de startups e à digitalização de negócios tradicionais, contribui para criar um ambiente propício ao empreendedorismo, permitindo fixar jovens qualificados que desejam conciliar carreira e qualidade de vida no Douro.
Como surge a ideia de ter presença em Bruxelas e porquê? Quais os principais objetivos desta decisão?
A presença em Bruxelas permite monitorizar mudanças nas políticas europeias, antecipar impactos e influenciar decisões. Isso inclui identificar oportunidades, estabelecer relações institucionais, atrair projetos piloto e integrar a região em grandes redes e iniciativas europeias. Com essa estratégia, a CIM Douro procura diversificar o investimento na região, promovendo áreas além do vinho e do turismo. No mesmo sentido, permitirá à CIM Douro acompanhar de perto as políticas e regulamentos europeus que afetam diretamente a região, possibilitando um diálogo estruturado com as instituições europeias. No curto prazo, serão priorizadas ações como a identificação de oportunidades de financiamento e cooperação para o Douro, o fortalecimento das relações institucionais com parceiros europeus e a participação em projetos de mobilidade, digitalização e sustentabilidade. Estes passos visam posicionar o Douro como uma região inovadora e integrada nas agendas europeias de desenvolvimento.