Todas as empresas nascem e muitas crescem, mas umas crescem mais, e bastante mais depressa, do que outras. Porquê? Existem várias razões – o contexto, o mercado, a região, o setor de atividade – mas, quando se olha para o tecido empresarial português, o fator distintivo das Empresas de Crescimento Elevado (ECE) é, afinal, “a capacidade de gestão”. Para Teresa Cardoso de Menezes, managing director da Informa D&B Portugal, estas empresas são “melhor geridas” desde o momento em que entram no mercado porque o lançamento é feito com base numa “perceção de oportunidades e numa análise de mercado prévia”, por parte dos fundadores que, a revelar-se acertada, irá ditar o seu rápido crescimento.
Na conferência “Empresas: Nascer & Crescer” da revista Exame, dedicada ao empreendedorismo e ao crescimento empresarial, foram apresentados os resultados de um estudo da Informa D&B Portugal sobre as ECE, baseado numa metodologia desenvolvida pela empresa há já doze edições. Durante a sua apresentação, Luís Cavaco, responsável de Estudos e Conhecimento da Informa D&B, afirmou que “as ECE são poucas mas dão um importante contributo económico para o País, principalmente na criação de emprego. Existem em todos os setores e em todas as dimensões, exportam, inovam e retêm talento”. Adiantou que “é difícil crescer”, mas que as empresas que o fazem de forma rápida dão “dimensão, escala e mobilidade” ao tecido empresarial nacional.
Nesta iniciativa, 14 Empresas de Crescimento Elevado foram distinguidas: BIMMS, Ovisegur, Ribadão Design, Servirent, Sotelmicert e Visão Pioneira; e ainda Baltor Steel, Boost IT, Mimasofa, Oasisbenefit, Futuro Alternativo, Proman Search, tb.lx by Daimler Truck e Wegho Home, estas últimas também com o Prémio Gazela (Empresas de Crescimento Elevado mas com atividade iniciada há menos de cinco anos, à data de referência do estudo).
A conferência “Empresas: Nascer & Crescer” é uma iniciativa em parceria com a Informa D&B e com o apoio da Capgemini e da PLMJ.
Um quarto das empresas cresceu, mas só 0,4% são ECE
Na última década, e apesar de condicionantes como a crise financeira, a pandemia, a guerra na Europa e a inflação, o número de empresas em Portugal cresceu 30% para 380 mil, revelando uma “grande dinâmica empreendedora”, o volume de negócios subiu 43% para 465 milhões de euros e o emprego aumentou 18%, para cerca de 3 milhões de pessoas empregadas. No período em análise, entre 2019 e 2022, cerca de 57% das empresas viram o seu volume de negócios subir, mas quase metade manteve o emprego em valores estáveis. Com crescimento simultâneo no volume de negócios e no número de empregados, só “cerca de um quarto das empresas” conseguiu fazê-lo, mostrando “o quanto é difícil crescer”. Mais: 29% das empresas estão em contração, com quebras nas vendas e nos postos de trabalho, de acordo com o estudo da Informa D&B.
São as empresas jovens (com menos de 5 anos) as que mais crescem, as maduras (com mais de 20 anos) as que menos o fazem, mas são muito poucas as empresas que crescem consecutivamente. No primeiro ano de vida, 68 % das empresas crescem, mas durante três anos seguidos, só 16% o conseguem. Esse valor cai para 1,1% (cerca de 1700 empresas) quando o período é alargado para dez anos consecutivos. E o ritmo é ainda mais dificil de manter quando olhamos para o emprego: Apenas 7 mil empresas aumentaram os postos de trabalho durante três anos consecutivos, e só 224 (0,1% do total) contrataram sempre durante dez anos seguidos.
Analisando apenas as ECE (que são as empresas com mais de 10 empregados que aumentam, de forma orgânica, o seu número de trabalhadores em mais de 20% durante três anos seguidos), o estudo da Informa D&B identificou, no período 2019-2022, apenas 1 562 Empresas de Crescimento Elevado (0,4% do total). Já as chamadas Empresas Gazela (de crescimento muito elevado mas com menos de cinco anos de vida), são só 276 (0,1% do total).
Luís Cavaco revelou ainda que estas 1 562 ECE dão “um importante contributo económico, em especial na criação de emprego”, já que o número de postos de trabalho cresceu em 88 mil, para um total de 137 mil em 2022. No seu conjunto, faturaram 13 mil milhões de euros, permitindo aos parceiros de negócio também crescerem de forma mais rápida. O número de empregados mais que duplicou, um fenómeno que se repete no volume de negócios, onde as ECE e as Gazela (um subgrupo das ECE), respetivamente, mais do que duplicaram e triplicaram esse valor.
Quanto à caracterização das ECE, sabe-se que existem em todos os setores de atividade, mas que se concentraram mais na indústria, construção e serviços empresariais; que são sobretudo as empresas adultas (entre 6 e 19 anos de vida) que mais crescem, e que quase um quarto (23%) são já empresas maduras (mais de 20 anos). São detidas maioritariamente (em 86%) por capital nacional, 56% apresentam acionistas ou sócios individuais e 20% têm gestão familiar. Cerca de 33% são exportadoras, cerca de 3,6% são consideradas inovadoras (quando a taxa é de 0,4% no tecido nacional), e encontram-se em todas a geografias, com maior incidência nas zonas do litoral. Sabe-se ainda que, para reterem o talento, pagam salários acima da média nacional, e têm maiores custos com pessoal.
“O crescimento elevado tende a ser um fenómeno muito raro e único na vida das empresas”. Das cerca de 11 mil ECE identificadas desde a primeira edição deste estudo da Informa D&B, em 2006, 56% teve apenas uma vez um crescimento elevado. No outro extremo da tabela, 3% das empresas tiveram 5 ou mais períodos em que registaram crescimento acelerado. Quanto à dimensão, as grandes empresas (com mais de 249 empregados) conseguem ser mais vezes ECE do que as médias e pequenas, verificando-se que 70% foram ECE durante pelo menos dois períodos considerados no estudo.
Pandemia obrigou a sair do “piloto automático”
Os resultados desta 12ª edição do estudo da Informa D&B estão em linha com os anteriores. Segundo Teresa Cardoso Menezes, “em todas as edições, identificamos 1500 a duas mil ECE em Portugal”, um número proporcionalmente inferior ao registados nos EUA, mas em linha com o que se verifica na Europa. Pondo a tónica na capacidade de gestão como marca distintiva destas empresas que crescem de forma muito rápida, a gestora defendeu que “Portugal precisa de empresas maiores, mais robustas e mais resilientes, capazes de resistirem a choques, sem incidências negativas”. Recordando que este estudo dá pistas sobre a maneira de fazer crescer as nossas empresas, recordou que o pós-pandemia “foi o período de maior crescimento nos últimos 20 anos”. Segundo afirmou, a pandemia obrigou as empresas “a saírem do piloto automático”. Tornaram-se mais “cuidadosas”, passando a usar mais ferramentas para a tomada de decisão e a procurar mais informação. “Hoje, a incerteza é grande, por causa das guerras, mas todos aprendemos e o tecido empresarial está mais robusto do que antes da pandemia”.
Cristina Rodrigues, CEO da Capgemini Portugal, assinalou a existência de um “otimismo muito cauteloso” por parte dos gestores e dos empresários nacionais, que veem oportunidades na atual conjuntura mas também têm receios. “O planeamento estratégico é muito importante para que as empresas saibam como reagir às crises, mas temos de deixar de carpir mágoas”, pois “o pessimismo não paga salários”. Recordando a evolução positiva da economia portuguesa, apontou a fuga de talento para o exterior, a par da transformação digital, como os principais desafios das empresas.
Bruno Ferreira, managing partner da PLMJ, reforçou a necessidade de sermos otimistas para obtermos resultados, mas fazendo depender a atração de investimento estrangeiro de fatores como a melhoria dos custos de contexto, a simplificação das obrigações legais e fiscais, e uma melhor regulação. Já Jorge Henriques, vice-presidente da CIP, recordou que “a fragmentação política” no Parlamento coloca incertezas, mas também desafios. Para que as empresas cresçam, é preciso “simplificar o edifício fiscal e legislativo, que continua emperrado”. E também fazer as reformas “fatia a fatia”, para resolver os problemas sem estar à espera de grandes reformas estruturais, porque “somos morosos a tomar decisões”.