A Microsoft tornou-se a mais recente estrela de Wall Street a entrar no clube dos “three trillion dollar baby”, empresas que atingem uma cotação de mercado de 3 mil milhões de dólares. Depois de ter fechado o conturbado acordo para a compra da fabricante de videojogos Activision Blizzard – por 96 mil milhões de dólares – e de ter renovado a aposta em inteligência artificial, a tecnológica tem visto as suas ações dispararem em bolsa desde o último trimestre do ano passado.
O Nasdaq – índice que agrupa as maiores tecnológicas dos EUA – está em máximos de dois anos e o S&P 500, que junta as 500 maiores empresas do país, bate recordes históricos. Mas, se em bolsa, 2024 começou com o pé direito, fora dela, bate recordes noutro capítulo: janeiro foi o mês com mais despedimentos entre as maiores empresas tecnológicas do mundo, em média, nos últimos dois anos.
De acordo com os dados do site layoffs.fyi, que agrupa os despedimentos registados nas tecnológicas desde a covid-19, foram despedidos cerca de 24 mil trabalhadores este mês. Só no dia 25 de janeiro de 2024 foram despedidos quase 3000 trabalhadores entre empresas tecnológicas em todo o mundo. Destes, 1900 eram da Microsoft.
Ainda em janeiro, a Google anunciou cortes em várias centenas de empregos, a Amazon despediu trabalhadores da Prime Video, MGM Studios, Twitch e Audible, o Discord eliminou 17% da força de trabalho e a alemã SAP anunciou a saída de 9000 pessoas. A tendência vem desde o período pós-pandemia e reforçou-se no ano passado. O líder da Meta (antigo Facebook), disse que esse ia ser o ano da “eficiência”: as ações dispararam 200%, mesmo com o despedimento de 20 mil pessoas.
As empresas perceberam que conseguiam “fazer mais, com menos pessoas”, explicou o CEO da Microsoft, Satya Nadella, no ano passado, uma expressão repetida ainda por Philipp Schindler, vice presidente da Alphabet (dona da Google) na apresentação de resultados em abril de 2023.
Efeitos da inteligência artificial?
Uma das explicações mais óbvias para este fenómeno será a aposta em inteligência artificial para substituir a mão humana em algumas tarefas, uma vez que todas estas grandes empresas definiram como prioridade o investimento nesta tecnologia.
Se olharmos para os números, a oferta de emprego para engenheiros de “software” – cujo objetivo é desenvolver sistemas operacionais e programas – tem diminuído desde 2022. Na Indeed, uma plataforma de ofertas de emprego muito conhecida nos EUA, o número de opções válidas para esta profissão caiu a pique, para valores semelhantes aos mínimos da pandemia, de acordo com os dados agrupados da Fed de St. Louis. O mesmo se verifica noutras profissões do ramo, como para “Helpdesk” ou operadores de “IT”.
Numa entrevista publicada na Visão, Manuel Dias, diretor tecnológico da Microsoft em Portugal, explicava que “estamos continuamente a olhar e a redirecionar o nosso negócio nas várias áreas”. Quanto ao impacto da IA, acrescentava: “Acho que quase como em todas as grandes revoluções tecnológicas vai haver despedimentos. Vai haver algumas tarefas que efetivamente vão ser automatizadas de alguma forma. Mas também vai haver sempre criação de novas profissões”.
Um estudo da consultora Delloite, publicado na Visão, mostra que mais de metade dos portugueses (56%) considera que, de facto, a Inteligência Artificial vai ser responsável pela diminuição de empregos em Portugal e pouco menos de metade (47%) dos inquiridos está preocupada com o facto de que a Inteligência Artificial substitua parte das suas funções atuais.