De acordo com um estudo da Pew Research, publicado no mês passado, 58% dos americanos dizem-se familiarizados com o que é o ChatGPT. No entanto, apenas 14% admitem já o ter experimentado.
Recordemos que o ChatGPT é uma ferramenta gratuita, acessível a qualquer pessoa com ligação à internet. É também a epítome atual do potencial que a Inteligência Artificial tem para alterar drasticamente o mercado de trabalho, os negócios, a inovação e até a nossa ordem social e política.
Não deixa de ser curioso que esta ferramenta, cujo acesso é tão fácil e as consequências tão sistémicas tenha, no entanto, uma taxa tão baixa de experimentação. E serão, certamente, ainda menos aqueles já experimentaram outras tecnologias como a Blockchain, a Realidade Virtual e Aumentada, o 5G ou o Metaverso.
Hoje somos constantemente confrontados com informação nova sobre novas tecnologias. Esta informação anima conversas de corredor, comentários na televisão, debates ao jantar. E ainda bem. É uma das maiores virtudes da sociedade de informação em que vivemos. Mas esta abundância pode precipitar-nos em conclusões apressadas – ou erradas – sobre o que as tecnologias são. E se isso não for, só por si, uma consequência grave, há uma outra, mais silenciosa: a de nunca entendermos o verdadeiro potencial que estas tecnologias poderiam representar para a nossa vida e para o nosso trabalho.
Esta perda de oportunidade não é desprezável: é uma questão de eficiência, de competitividade e de bem estar.
É neste ponto que a tecnologia vai além do seu lado tecnológico e se torna um tema de gestão e de negócios. Quando entramos nos domínios da eficiência, da competitividade e do bem-estar, falamos de três das razões que têm levado nos últimos anos tantas empresas a investir na sua transformação digital. Não é possível pensar a liderança corporativa, a gestão e as finanças sem pensar também no que a tecnologia tem de ameaça e oportunidade. Tecnologia e negócio são, desde há vários anos, e potencialmente para sempre, indissossiáveis.
As escolas no geral e as de negócios em particular, enquanto incubadoras dos clientes, gestores e lideres do amanhã, devem ser as primeiras a facilitar o acesso às tecnologias. Para além de a incorporar no ensino e nas operações, a escola deve também ser um lugar de encontro entre as pessoas e a tecnologia, de maneira a que deste encontro possa nascer um entendimento mais claro sobre o que esta é – para que serve, as oportunidades e os perigos que pode representar.
É, por isso, muito importante que existam espaços que democratizem o acesso à tecnologia. Nem toda a gente pode comprar uns óculos de Realidade Imersiva (muito menos se forem os Vision Pro da Apple!) que permitam experimentá-la, gerar debates construtivos sobre as suas implicações e consequências, e com isso ajudar a catalizar as ideias que se tornarão nas grandes invenções das próximas décadas. E que essas mesmas invenções possam passar da inspiração à ideia, e posteriormente ao protótipo através das ferramentas e recursos que estes espaços colocam à disposição da comunidade.
Segundo o Indíce de Digitalidade da Economia e da Sociedade (IDES) de 2022, a percentagem de empresas portuguesas com pelo menos um nível básico de intensidade digital é de 52%, sendo a média da UE de 55%. No mundo dos dias de hoje, a literacia digital e tecnológica não é uma opção. É um imperativo que precisamos de trabalhar, em tempo e no(s) espaço(s) apropriado(s).