Quando Lionel Messi meteu o primeiro drible em Joško Gvardiol quase no meio-campo, o público que assistia à meia-final entre a Argentina e a Croácia começou a levantar-se das cadeiras. No final do lance, tinha o melhor jogador do mundo enganado o central croata e assistido Julián Álvarez para o golo que fechou o jogo, não deveria restar uma pessoa sentada no Estádio Lusail. A experiência que estamos a viver na economia não é muito diferente: empresas e trabalhadores têm de se ir “levantando” se quiserem continuar a “ver o jogo”, subindo preços ou pedindo aumentos de salários, num ciclo contínuo.
Esta é uma forma (não totalmente consensual) de olhar para a inflação. Em vez de nos focarmos simplesmente no fenómeno monetário, podemos entender a subida generalizada de preços como uma coleção de microdecisões diárias, numa tensão permanente entre diferentes interesses. Matérias-primas ficam mais caras, as empresas sobem os seus preços, outras empresas (clientes ou concorrentes) reagem, os trabalhadores exigem salários mais altos, fazendo as empresas aumentar ainda mais os preços e regressando ao início do ciclo. No entanto, não é exatamente isso que está a acontecer. Nem todas as rodas dentadas dessa engrenagem estão a girar. A forma como a sociedade lida com a subida de preços é um reflexo das suas relações de poder. E, pelo menos para já, ficou exposta a impotência dos trabalhadores.