Poesia, literatura, espetáculos. Do Norte do País chegam-nos as sugestões culturais da nossa jornalista Cesaltina Pinto, que fez uma seleção apetitosa de leituras e programas para os dias de inverno.
Um livro que (nos) questiona
“O neoliberalismo não é um slogan, mas sim uma das mais poderosas e multifacetadas formas de economia política”, que deixou “um poderoso lastro em instituições nacionais e supranacionais”. São estas as “regras do jogo que estruturam as relações sociais no capitalismo realmente existente”. Até aqui, ninguém discordará de João Rodrigues, economista, doutorado pela universidade de Manchester, professor em Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES). Neste livro, João Rodrigues escalpeliza o pensamento de alguns dos principais ideólogos neoliberais, como Friedrich Hayek. Elege Cavaco Silva como a figura que melhor personificou esta interpretação do mundo, em que o Estado é visto como um empecilho ao desenvolvimento. Desregular, liberalizar e privatizar foram os três pilares do Acordo de Washington, muito presente em todo o processo de construção da União Europeia. Mas qual foi o impacto disto no modelo de sociedade que hoje temos? E quais as suas consequências? Este é um livro que nos questiona e nos obriga a refletir. Mais não seja, avaliando alternativas.
À procura da verdade
Se viram a série Os Durrell, devem lembrar-se as maluquices de Larry, o filho mais velho que queria ser escritor. O que podem não saber é que ele se tornou, efetivamente, um escritor brilhante. Exemplo disso é este Quarteto de Alexandria, considerado uma obra-prima nos idos anos 60. Os 4 livros – Justine, Balthazar, Mountolive e Clea – publicados entre 1957 e 1960, foram reunidos num só livro há 2 anos, mas há uma edição de bolso com os quatro romances separados que tornam mais prática a leitura. Para quem gosta de romances com uma boa intriga passada em ambientes exóticos (Alexandria, Egito) e que mistura questões filosóficas e políticas, esta é uma bela opção. E mostra-nos também que não há uma só verdade para a mesma história.
A complexidade pessoana
É uma excelente prenda para quem gosta de Fernando Pessoa, ou para quem gosta de biografias. Afinal, ainda há tanto a descobrir acerca deste poeta maior e dos seus múltiplos heterónimos. Além do mais, lê-se facilmente: apesar das suas 1200 páginas, a escrita é escorreita e despretensiosa. Americano nascido em Washington, Richard Zenith está radicado em Portugal e andou 12 anos a explorar o percurso e a vida do poeta. E o que se descobre mostra que o homem era muito mais complexo do que já imaginávamos.
Um poema por dia…
“É este o corrimão. Se me sentasse nele / desceria até à tua juventude”. Esta coletânea de Daniel Maia-Pinto Rodrigues é uma preciosidade a descobrir. Uma oferta alternativa que pode surpreender quem a recebe. Mas não há como um poema por dia para evadir da complexidade dos dias e, quem sabe, até dormir melhor. E se o que lemos apelar ao nosso sentido de humor, melhor ainda. A prova: “Atrai-me em si jovem senhora / o bom trato que dispensa aos filhos / o saia-casaco feito por medida / a sua corruptível seriedade”.
Assinaturas da Casa da Música em ano da Alemanha
É o ano da Alemanha na Casa da Música. Pela segunda vez em oito anos depois da primeira. Tendo já passado pela Áustria, França e Itália, impunha-se o regresso a “uma das potências maiores da música”, que “oferece um património musical inesgotável”. Stefan Blunier, maestro suíço titular da Orquestra Sinfónica da Casa, promete “muitas combinações raras ou conexões interessantes” entre compositores alemães, dos mais antigos aos contemporâneos. Haverá um ciclo de sinfonias de Schumann, a ópera Elektra, de Strauss, e espaço para os mais contemporâneos como Stokhausen. Por sua vez, o Remix Ensemble, terá uma estreia mundial conduzida pelo alemão Enno Poppe. Oferecer uma assinatura para quem está mais a norte, é uma opção a considerar. Há 11 escolhas possíveis, desde a sinfónica série clássica (18 concertos, €257,40), ao ciclo Grandes Concertos Virtuosos (8 concertos, €117,60), e, claro, o imperdível Integral das Sinfonias de Schumann (4 concertos, €66). É só escolher aqui.