Corria o mês de março de 1982 quando João António Cerdeira assinou a primeira garrafa com marca Soalheiro. Quarenta anos depois, António Luís e Maria João Cerdeira e a matriarca Maria Palmira continuam a fazer da propriedade – e da marca – uma das mais prósperas da região. Não é de estranhar: João já tinha inovado muito quando, em 1974, decidiu plantar a primeira vinha contínua de Alvarinho e criou a primeira marca de Alvarinho em Melgaço. Foi também um dos primeiros produtores desta casta no País. Atualmente, a Quinta de Soalheiro é a única empresa de vinho em Portugal com certificação IDI Investigação, Desenvolvimento e Inovação, e tem, dentro da propriedade, uma incubadora onde convida “mentes inquietas a explorarem as suas próprias ideias”. Do centro de inovação já saíram referências como o Soalheiro Nature, o Pet Nat ou o Ag.hora – vale a pena procurar mais sobre o projeto, e outras experiências, na página da Quinta de Soalheiro!
Mas desengane-se se acha que a ousadia da inovação retirou alguma qualidade ou consistência à produção das referências mais clássicas desta marca: nem um pouco. Aliás, os Soalheiro continuam a ser apostas seguras quando queremos explorar ou mostrar à mesa a Região dos Vinhos Verdes, o que a torna ainda mais valiosa no momento atual: é que a Europa (sobretudo países como França) está particularmente atenta a esta região e é muito apreciadora de perfis seguros e constantes – não é sinónimo de aborrecidos, bem pelo contrário – ao longo dos anos. Aquilo que António, Maria João, Maria Palmira e a equipa da Quinta têm conseguido é, além de uma surpreendente faturação de €5,8 milhões em 2021 – produzem cerca de um milhão de garrafas por ano –, um projeto que tem sido distinguido pela aposta na sustentabilidade, na integração de recursos da região e de pessoas com necessidades especiais.
No final deste ano, o projeto de enoturismo também já terá escalado – atualmente, pode ficar hospedado na Casa das Infusões, mas vai haver mais quartos disponíveis – porque a marca está a celebrar com pompa e circunstância a chegada às quatro décadas de atividade. É que, além de ter criado uma linha de tisanas, chamada The Pur Terroir, apresentou ainda quatro novos Alvarinhos: um de 2015 (um ano frio), outro de 2018 (um ano quente) e dois blends que integram percentagens diferentes dessas duas colheitas. Uma espécie de jogo com a história do terroir e da marca, que promete divertir os amantes de vinho.
Quem chega, hoje, à Quinta de Soalheiro tem alguma dificuldade em imaginar que foi preciso expulsar o carro de família da garagem para, no início dos anos 80, a usar como adega. Mas o que é certo é que nenhum dos vinhos perdeu a autenticidade que a família faz questão de transportar para cada referência. E, sim, até fizeram um vinho tinto (com Alvarinho, Pinot Noir e Vinhão) que merece um lugar de destaque na sua garrafeira, se for pessoa de se encantar com o processo de envelhecimento de um vinho em garrafa. Nós somos.
*Artigo publicado originalmente na edição 460 de agosto de 2022 da revista EXAME
Oppaco 2013
> Região
Vinhos Verdes
> Onde encontrá-lo?
No site do produtor ou no Mercado Delicatessen (www.mercadodelicatessen.com), por cerca de €17
> O vinho
Experimentámos duas colheitas (2013 e 2018), e a primeira ganha por muitos pontos – é vinho que aguenta mais uns dez anos em garrafa, e tencionamos prová-lo novamente em 2033, para comprovar. Um vinho mesmo divertido, com 12,5% de álcool, que no nariz é um vinho doce (caramelo, frutos secos, mel e baunilha), na boca é leve e intenso, com alguma acidez e poucos taninos, algum sabor a petróleo, estruturado e com um final muito agradável. Ótimo para acompanhar pratos leves (massas, carnes brancas, bacalhau…). O de 2018 ainda está demasiado exuberante para ser consumido. Na nossa opinião, claro.
ALLO 2021
> Região
Vinhos Verdes
> Onde encontrá-lo?
No site do produtor ou em garrafeiras nacionais
> O vinho
A ideia de juntar as castas Alvarinho e Loureiro (de cujas iniciais surge o nome) faz com que este vinho seja um dos mais interessantes da marca. Cheira a pinheiro e a mar, e na boca há um bocadinho de maçã verde. Não precisa de comida – mas um queijo leve pode funcionar – e tem um final de boca que é uma delícia: ficamos a sentir a acidez no ponto certo e o equilíbrio perfeito entre duas castas complementares: Alvarinho dá-lhe frescura e acidez; Loureiro dá-lhe aroma e sabor.
Soalheiro Rosé 2021
> Região
Vinhos Verdes
> Onde encontrá-lo?
No site do produtor (www.soalheiro.com) ou em garrafeiras nacionais, por cerca de €13
> O vinho
Vamos já fazer um ponto prévio: este é claramente um dos nossos rosés nacionais preferidos, e, de cada vez que o bebemos, comprovamo-lo. Com aroma a ameixa amarela, é um vinho mineral e seco, com alguma salinidade a sentir-se no final prolongado. Acompanha perfeitamente pizzas, massas, carnes brancas, e nós adoramo-lo com alguns enchidos – porque tem a acidez certa para cortar a gordura. Se gosta de vinhos frutados e florais, este definitivamente não é para si…