Na conferência deste ano da Portugal em Exame todos os caminhos foram dar à sustentabilidade. E esse tem de ser o destino para a economia, empresas e a sociedade prosperarem no futuro. “Temos de trabalhar numa economia que seja regenerativa por design e somos apenas tripulantes momentâneos com a responsabilidade de deixar um sistema melhor do que o que encontrámos”, defendeu a secretária de Estado do Ambiente na intervenção de abertura do evento. Inês Santos Costa advertiu que “a sustentabilidade de uma economia não pode ser apenas um alinhamento momentâneo entre sistemas fechados e independentes de economia, sociedade e ambiente. Como se a Humanidade se pudesse dar ao luxo de ser 20% sustentável – e só para alguns privilegiados – enquanto os restantes 80% continuam a viver de modo insustentável”.

O assunto foi retomado ao longo dos vários painéis. E a principal conclusão foi de que quem não embarcar neste caminho, rapidamente ficará para trás. “Ou estamos ligados a isso ou vemos o comboio passar”, advertiu Luís Castro e Almeida. O CEO do BBVA Portugal considerou mesmo que “a sustentabilidade é o negócio do século quer para os bancos quer para as empresas”. Observa que “ainda se vive um momento em que somos todos gregos quando se fala de sustentabilidade e de proteger o meio ambiente, mas quando se fala de pagar mais por isso já há alguns troianos”.
Para as empresas e organismos “troianos” que não estejam dispostos a ir além das palavras, o futuro não se afigura fácil. João Meneses compara esta transição rumo à sustentabilidade com a que com aconteceu há duas décadas no digital, que terá elevado custos e dificultará a sobrevivência de quem ficar de fora. O secretário-geral do Business Council for Sustainable Development Portugal recordou que “metade do PIB mundial assenta diretamente em recursos naturais e as empresas precisam de preservar o planeta se quiserem ter negócio”. Além disso, são forçadas pelos seus stakeholders a seguir práticas sustentáveis: “O consumidor quer consumir com propósito, o investidor quer retorno económico mas também ter impacto no mundo, o trabalhador que ter um propósito e as empresas que não fizerem esta transição serão penalizadas”.
Metade do PIB mundial assenta diretamente em recursos naturais e as empresas precisam de preservar o planeta se quiserem ter negócio
joão meneses, secretário-geral do Business Council for Sustainable Development Portugal
João Lé, administrador executivo da Navigator, afirma que a sustentabilidade tem de ser o fio condutor. E exemplifica com o caso da empresa em que exerce funções: “O nosso negócio é assente na floresta e tem de ser sustentável sob pena de não sermos competitivos”. A prioridade número um é descarbonizar, aponta. Mas as empresas de maior dimensão têm também de trabalhar com os seus fornecedores na redução das emissões. Algo ainda mais premente num mercado como o português, que tem um peso elevado das PME. Nestes casos, destacou Pedro Afonso, “tem de haver uma proximidade ao processo formativo dos gestores e as associações setoriais podem ter um grande peso”. O CEO da Vinci Energies Portugal entende que em Portugal há “pouca cultura de nos aproximarmos e aprendermos uns com os outros e isso devia começar nos bancos da escola”.
O desafio que as empresas enfrentam são grandes e a tarefa pode ser mais ciclópica para as PME. João Meneses nota que o “nosso setor empresarial tem sido impactado por uma série de choques e as PME tiveram de integrar tecnologia, melhorar a qualidade da oferta, o desafio da internacionalização e da criação de marcas, da transformação digital e agora aparece este impacto da sustentabilidade”. O secretário-geral do Business Council for Sustainable Development Portugal até vê casos de estudo positivos no nosso País no que diz respeito à sustentabilidade, mas mostra-se preocupado com a capacidade do tecido empresarial incorporar todas estas transformações.